domingo, 23 de dezembro de 2007

Então, é Natal

Feliz Natal e Ano-Novo! Boas Festas! É tão fácil encher um desejo de toda a alegria do mundo com apenas estas palavras! Mas e fazê-lo parecer sincero? Desejos de final de ano são os mais difíceis de se fazer, na minha opinião. É quase impossível não cair em clichês e não importa o que escreva ou diga, nunca me parece bom o bastante quando quero desejar algo sinceramente bom pra alguém.
O problema destas festas é que se espera uma quantidade de felicidade e compaixão escondidas ao longo do ano, que devem brotar misteriosamente no dia 24 de dezembro, sem questionamentos. Dezembro traz a licença pra declarar amor a tudo e a todos, sem medo de cair no brega e no meloso. Mas também impõe uma certa obrigação, dizendo “como assim você não está feliz? É natal!”. É por isso que Natal sempre tem uma parte melancólica, todos se obrigam a ficarem felizes – e todo mundo sabe que aquilo feito por obrigação nem sempre é sincero.
Mas o mais intrigante disto tudo é que, ainda assim, gosto do Natal e ainda mais do Ano-Novo. Talvez porque estas datas materializem o andamento do ciclo anual, que faz parte do ciclo de nossas vidas humanas e sociais. Socializar é algo que parece ficar mais fácil na época natalina, por isso, os interesses econômicos da data ainda resultam em algo de bom.
Oras, já que não dá pra parar o ‘espírito’ natalino mesmo, juntemo-nos a sua parte boa, querendo dizer algumas poucas palavras sinceras:
Felicidade pra todos vocês, amigos, parentes e desconhecidos!
Que nós sintamos vontade de desejar isto algumas vezes durante o ano, sinceramente – por sentir felicidade e querer transbordá-la em palavras ou gestos.

Lusco-fusco

Chamei e você veio – veio, foi, voltou e ficou. A luz estava acesa, quis apagar, mas você não queria. Ficou acesa então, talvez tenha sido esse o nosso erro. Foi tudo real demais. Estivéssemos no escuro, facilitaria o esquecimento, as memórias se embaçam quando fogem as cores. Os olhos se acostumam à meia-luz e dá pra ver tudo, só que sem cores. Os contornos são o que importa para se orientar no espaço e no tempo, mas são as cores o preenchimento, aquilo que provoca a pausa, a momentânea sensação de completude. E as cores estavam conosco, todas elas. Só foram embora quando você também foi. Da próxima vez que vier de saída prevista e breve, apague a luz.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Figura de duração para o silêncio

Pausa. A estupefação chegou à língua e à ponta da caneta, pararam as palavras e as entonações. Estou sempre em um desses dois estados: declarando ou ouvindo declarações, sempre interessada nelas, ouvidos e olhos abertos, atenção escolhendo o que focar; cordas vocais ou dedos sempre trabalhando em cada reflexão. Mas agora acabam de me voltar as palavras que haviam fugido, e só pra falar sobre elas mesmas. O estado declarante/ ouvinte parece ter sido interrompido, momentaneamente, por uma reflexão mais densa que o habitual. Aquela sensação de eminência discursiva, quando os fonemas ficam a postos na língua, prolongou-se, as ordens para a ejeção deles não chegavam do cérebro.
Eventualmente, algumas sinapses conseguiram achar o caminho e vieram pra estas letras saírem – mas ainda são letras egocêntricas, falando sobre elas mesmas. Falar sobre o acontecimento/ momento vivido há pouco/ ainda agora seria de tanta pequenez que correria muito risco de aborto, assim como ler ou ouvir declarações alheias seria inócuo e parecia desinteressante, de inédito.

Labirinto (ou Caroço II)

Aquilo não se chama mais caroço. A casca quebrou porque cresceram coisas dele, espécie de raízes. A orelha esquerda está feliz, pois agora não é mais incompreendida pelo resto do corpo, as outras partes entendem-na, porque as raízes estão por todas elas.
Uma vez plantei um grão de feijão no algodão e as raízesinhas formaram um pequeno labirinto. Só que naquela época, tudo era uma grande experiência, eu era a cientista impressionada com os resultados – todos eles cabiam na palma da minha mão.
Agora, não cabem mais e acho até que deixei de ser cientista, sou experimento. A única semelhança com o pé de feijão é o labirinto que as raízes do caroço fazem. Elas se misturam com o labirinto da minha mente, que se confunde com o do meu espírito e do perispírito e da alma e do coração e até das fibras musculares. Enfim, agora o caroço – que não é mais caroço – faz parte de mim, como labirinto.
Outro dia li em alguma revista de curiosidades banais, que o que você desenha sem pensar muito enquanto faz outras coisas, pode revelar algo sobre seu estado de espírito. Como sempre tive mania de rabiscar em tudo quanto é lugar e à qualquer hora, resolvi reparar nos tais rabiscos: um monte de labirintos! Para todos os gostos: retilíneos, arredondados, abertos, fechados, independentes e sobrepostos. Segundo a tal revista, labirinto revela dúvida, confusão. Oras, melhor definição não pode haver.
Pois então, se eu sou um labirinto, sou uma confusão, sou uma dúvida. Ainda bem que tenho Clarice Lispector para me consolar: "Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento. Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Eu sou uma pergunta."
Nada de angústia, nem de medo ou de insegurança, tampouco, nada de certeza, nada de paralisia. Sou uma pergunta e me pergunto que é que a vida vem me perguntar. Quando todas as respostas forem dadas, o jogo acaba. Mas isto não acontece, pois cada resposta brota com uma pergunta acoplada.
Então a angústia não está mais presa num caroço incomodo. É certo que lascas dela se espalharam, mas se espalham como os pedaços dos outros sentimentos e se misturam, se separam e se unem em brotos. Cada broto, uma dúvida, uma resposta, uma mudança, uma pergunta. Labirinto.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Caroço

Tem uma angústia enorme atrás da minha orelha esquerda
Nunca tinha percebido que ela era tão grande
Porque só chiava
(baixinho)

O problema dela é que não é muda
É rouca

Antes fosse muda ou gritalhona
Se fosse muda, eu só arrancaria ela dali
Mas não dá, porque seus gemidos voltam com o vento
Se fosse espalhafatosa, abstrairia sua presença, focaria em outras coisas
Mas não, porque o chiado entra de mansinho sem pedir licença
E por ser pequeno, arruma lugar pra ficar

Uma coisa tão grande que se manifesta tão pequeno

Meu coração parece pequeno quando ela está ali
do lado esquerdo

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

De política, pra variar

(o que, nos últimos tempos neste blog, é uma variação mesmo)

Os dês-declarados

declaro a dês-declaração de tudo
porque não estão nada claros
os objetivos dos declarantes
quase todos eles

para maiores dúvidas,
declaram ponto final.

para burocracias,
declaram interrogação?

para exclamações!
declaram reticências...

"para aspas"
(declaram parêntesis)

para ruído,
declaram barulho

para voz
declaram tampões de ouvido

para grito
declaram tiro

onde a resposta de uma pergunta é outra
e os entrevistados jogam passa-e-repassa
até que a hostilidade da burocracia cansa,
e as reivindicações são podadas,
mas estas não sabem declarar soluções

então, os ex-reivindicantes declaram sua a-declaração
declaram seu mundo in-declarado
e seguem declarando nada.


>Passes e posses

A burocracia excessiva do Brasil não é segredo. Ela poderia, pelo menos, servir para dificultar a corrupção, talvez até o faça. Há tanta burocracia para corromper quanto para dês-corromper. O problema é que os corruptores têm mais poder – essa força ‘misteriosa’ que afrouxa barreiras, inclusive as burocráticas.


Questiona-se o fato dos anti-corrupção possuírem tanto poder quanto os corruptos, afinal, aqueles podem obter ajuda da opinião pública e do poder de denúncia da imprensa. Mas estes últimos poderes não são da mesma natureza do poder da corrupção, pois são voláteis, imateriais, enquanto este é tratado como uma posse.

Numa sociedade capitalista, possuir é o objetivo, portanto, o poder desta natureza pode ser do mesmo tamanho ou até menor que o de natureza ética, no entanto, encaixa-se melhor ao sistema, funciona com ele e não apenas dentro dele.

Que fique Renan com o cargo que lhe resta, já que se desfez de uma de suas propriedades, e que ajude no leilão. Que leiloem a decisão sobre a CPMF, entre defensores deste bem ao qual o poder lhes dá acesso e defensores da propriedade de seus cargos, através da decisão eticamente aceita de acabar com o imposto.

Vejam só, um julgamento com duas comissões de defesa! Time recuado - talvez seja essa uma das características da política que mais difere do futebol brasileiro.

Só espero que a torcida não entre na mesma onda e não aplauda de pé. Que descubra a força de seu poder, não de posse, mas de passe. Posse de bola, sem passe, não leva ao gol. O treino em meio a barreiras cansa, mas ainda acredito que cansa menos do que reclamar, em vão, continuadamente. Que apite o árbitro!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Fale pra ele!

ele disse que vem
já deve estar a caminho
à cada letra que teclo ele chega mais perto deste lugar;
chegar a algum lugar não quer dizer chegar a alguém

meu espaço posso proteger,
nem que precise sair do espaço para tanto
acontece que fora do espaço, meu espaço já não faz sentido*

é como uma poesia que acaba porque se escrever mais estraga
porque não dá pra exprimir mais nada
sem que isto mude o que se sente

talvez seja medo de esgotar o sentimento em significados até acabar com ele
mesmo que o sentimento seja ruim
é aquele receio de mudar e de cair no incerto
tão incerto quanto somos
até na maior certeza do mundo.


*então tenho que dizer
tenho que compartilhar
o que me incomoda é ter que mostrar
falar só pra provar,
pra cumprir um padrão
não, não pode ser assim,
é tão bom o espontâneo!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Meia vida, vida e meia

Não quero viver as coisas pela metade
Não suporto estar aqui podendo estar lá
E sabendo que posso

“Se é pra sorrir, que seja com todos os dentes”
Se é pra amar, que seja de corpo e alma
Se é pra brincar, que seja sem preocupação

Mas minha aura é preocupada por natureza
Quando acho que ela está calma, susto
Acordo de madrugada com coração acelerado

Será que faço o que quero?
Será que quero o que faço?
Será que quero tudo?
Só sei que não quero metade.

sábado, 24 de novembro de 2007

A-tchim de cantigas de roda

Era uma vez um dia desinteressado
e eu, desinteressante,
espirrei umas cantigas de roda
do-baú
mais umas canções e jingles
quaisquer
e ficou assim:

blum
bum
tchibum
tim
tim
a
ah
aah
tchim!
Atchum!
bum
bum
bumbum
bom
bom
bombom
bem
bem
meu bem
blém
belém
belém-belém, nunca-mais eu tô de-bem, até o ano-que-vem!

nem-vem-que-não-tem
vamos-todos-cirandar
sem dar meia-volta
volta-e-meia vamos dar

se essa rua fosse minha
caranguejo peixe era
o anel que tu me deste
era fogo e me queimou

eu mandava ladrilhar
a rua dos bobos número zero
choque-choque por aí
do berro que o gato deu
e quebrou as pedrinhas de brilhantes

atirei um pau no gato
mas não era vidro e não quebrou
o amor que tu me tinhas
era uma casa muito engraçada
mas era feita sem muito esmero

para o meu amor passar
cirandando cirandinha
abacaxi e piuí
do sambalelê
da cabeça remendada

eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou
que estou fervendo
melhor nem vir quente
quem bate é o frio
mas nem deixo você entrar
lãs e cobertores já comprei

um é pouco, três é demais
já dizia o caboclo
anda pra frente que atrás vem gente
mas a casa não tinha chão
nem parede com rede
só rede sem parede
e agora, josé?

o sapo lava o pé!
lá na lagoa não tem sabonete
mas ele lava porque quer
e não tem chulé
blé!

quem conta um conto
tira uns pontos
e agora é com vocês
se quiser, que conte outra vez!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Olha aí

Olha só quem apareceu
saiu debaixo da capa preta
falou tudo o que pensava que era mudo
mudou tudo o que achava que era fixo
Correu, andou, olha só como ri
maria-sem-vergonha é aquela florzinha
aparece em todo canto, por isso a difamam
mas tudo o que ela faz é alegrar a paisagem
Esquilos andam todos desengonçados
parece que ainda não aprenderam nada
quebram as nozes timidamente
mas vão pra todo lugar, olha lá
Pra que se esforçar pra chamar atenção?
nada brilha mais do que sorriso
quando o medo vai embora, a capa voa
e diz: "olha, olha lá o que eu cobria"

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sublime

Não pense que é todo dia que escrevo poesia
Não, não é assim fácil que nem falar
(se bem que discordo que falar é sempre fácil)
Mas poemas, ah, você pensa que eles saem assim, do ar?
Não, que nada, poema é algo sublime
- De sublimar
Sempre pensei que sublimar carrega um mistério
(uma coisa está sólida e, de repente, puf, some dos olhos

e não dá pra ver o processo, simplesmente acontece
mas você não vê acontecendo, só o acontecido - que ainda é invisível)
Afinal, nunca vi algo sublimar

Mas poesia, ah, poesia é algo sublime
E que, portanto, sabe sublimar
E faz tanto sentido quanto emoções em versos,
quanto rimas sem pé nem cabeça
e quanto cabeças na lua
Ah, sublime! Poesia é assim
Nunca vi algo poesiar, só que poema não aparece de repente, já acontecido
Poesia acontece, poesiando devagar
Mas ela só te toca de repente, num total, sublime.;'

Sem título




Queria ser menos preocupada - com tudo


Queria sair sem mala - até podia avisar, mas sem mala


Queria ser menos meticulosa, esses pensamentos detalhistas ficam voando na frente da minha vista e saturando minha cabeça


Queria ficar nem aí pra estar nem aí


Queria escrever um poema sem começar cada verso com a mesma palavra, ou até escrever sem verso


Queria escrever uma linha de letra de mão corrida em pena no ar, fazendo uma ponte até o mar, é, só pra andar por cima dela, olhar a serra, sentir a vertigem e pisar forte rindo porque passou. Não, nem ia me molhar, não queria me afogar, não não já é noite e o mar é forte, só se fosse a chuva, ela, pra variar. Ah, e o vento, que brinca de brisa, ele parece se divertir tanto que dá vontade de brincar junto - minha saia ajuda, ela gira e gira suave, enquanto eu danço descoordenada e meu cabelo faz cócegas nos olhos, fechados, abertos, quem liga.. eu não, e aí, não penso no aí, nem no aqui, to nem, nem aí, nem aqui, nem lá, e aí, acho que consegui o que queria - e foi tudo dum papel em branco com pensações voantes sem ponto final

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Chovida

CHOVE, aquela chuva calma, espevitada de verão, como a "aurora da vida". Talvez a chuva seja a melhor tradução da vida, metáfora de vários tipos de vivências. A chuva-temporal-de-raios-e-trovões, é o medo do sem controle, das situações obscuras em que nos metemos, é o não achar o caminho de volta pra casa. A chuva-de-pedras-de-gelo é o toc-toc de uma realidade dura, que chega de súbito, mas de leve; ou o emergir de uma idéia latente, única, surpreendente. A chuva calminha e grossa, no calor, é aconchego, é a fala do cotidiano bem perto do ouvido, é simplicidade fina, difícil até de acreditar, porque tentamos rebuscar; é cada gota sentida pra viver plenamente. Chuva fininha com ventania de inverno é a rigidez da realidade - o fôlego da jornada vem ao encara-la de frente; é contratempo e impulso ao mesmo tempo. E aí chega a chuva-de-verão, torrente de supetão; é intensidade pura, é insensatez, é a virada radical que cada situação precisa, é força, vigor, é entrega. É chuva, é vida.

*******

Te digo a chover

Se você disser que eu vivo na chuva
Direi que maior verdade não há
Se aqui, agora, vivo a torrente,
É que vivo sempre e não quero parar

Se de pé em pé d’água nasce um caminho
Andarilho, corro e pulo, sem dó
Dó é trovão duro em terra seca
Piedade é água corrente no solo

O chão, molhado, é bem mais macio
É canto e poesia de escorregar
Nas vielas da vida desconhecidas
Que tanto levam a nos encontrar

Não entendo como que as nuvens fazem
Pra todo tipo de chuva chover
Mas sei que ajo como elas agem
Sem perceber, ao cair a viver

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

D'um bar

Daí vi aquela cena de um cara sentando numa mesa de bar. Sozinho. Como se aquilo fosse tão banal quanto excêntrico. Como se fosse sua última esperança desesperançosa. Queria fazer algo, não sabia o quê. Só sabia que sua solidão o incomodava muito, não podia estar só consigo mesmo, seus pensamentos não o deixavam em paz.O que as pessoas fazem quando se sentem sós? Procuram mais pessoas. E onde há sempre pessoas querendo ser procuradas, senão num bar?
Decidido, levantou da poltrona velha e surrada do apartamento no centro da cidade, lavou o rosto, passou colônia, escolheu um par de sapatos – aqueles novos ainda não tirados da caixa, presente da mãe em sua última visita “para sair com as garotas”, dizia ela. Olhou-se no espelho, percebeu que falava consigo, balançou a cabeça, desviou o olhar, dirigiu-se à porta. Nunca a maçaneta havia sentido tamanha decisão. Mas o chão do corredor hesitava no toque dos passos desajustados. As luzes da rua ardem, fraquejam os olhos, provocam indecisão de encarar o mundo frio e objetivo. Mas, ao mesmo tempo, fazem as pernas revidarem contra o ofuscamento e surge uma coragem cheia de satisfação.
O letreiro luminoso pisca. Aquela precariedade passa uma mistura de banalidade e novidade. A porta se abre com facilidade, agora é preciso entrar. Então dentro, por que toda aquela segurança parece ter sumido? Onde sentar, o que fazer? Enfim, qual bebida pedir? Devo olhar em volta? É tudo tão banal que é melhor fingir que não se vê, pois já está acostumado – mas não está. O costume é um hábito fora de lugar, nesse caso.
Percebe-se só. Somente sozinho, mais nada.E então, as vozes voltam pra lembrar que, às vezes, faz-se mais só aquele rodeado de muita gente. Nem havia tantos assim naquele lugar, mas o suficiente para alternar a atenção dada àquelas vozes ao observar outros seres. Eles deviam ter pensamentos como os dele, mas, provavelmente, não pensava sobre seu próprio pensar. Talvez o fato de achar ser o único a pensar no pensamento fosse o que o angustiava.Quando nossos olhares se cruzaram, foi um momento de revelação. Percebi-me na mesma situação que a dele. Mas, alem de pensar sobre meus pensamentos, ainda atribuía a mesma conduta àquele homem. Podia ser mesmo que aquelas suposições fossem verdadeiras, mas isto não importava.O que aquela revelação causou foi um estranhamento daquela realidade de bar. Pessoas buscando algo, fugindo de si mesmas. Mas foi justamente nessa fuga que me encontrei.

Eles

Quando vi, já tinha me identificado. Eles sabiam quem eu era. Era - não sou mais?
- Quem sabe?
- Eu não. Talvez, eles saibam!
Eles! Eles não são várias pessoas. Eles não é um indivíduo. Eles não é ele.
Eles não são as vozes da minha cabeça, nem da sua.
Mas eles são vozes, ah, são!
Só que não da minha cabeça nem da sua, nem dele, nem dela.
São vozes que misturam as vozes misturadas de muitas cabeças e de nenhuma.
Eles não tem cabeça. Eles tem e têm também, ou não te/êm.
A voz deles entra nas nossas cabeças e mexe com as que moram lá. Quer fazer amizades, mas é mandona, quer controlar - e, muitas vezes, acaba conseguindo.
A voz deles é uma megera, é, tipo uma bruxa rabugenta. Enche o saco das vozes nascidas dentro das nossas mentes até que elas se convençam, elas mesmas, de que estão erradas e a correta é a voz deles.
E essa voz, a deles, fica repetindo que as outras vozes não precisam se questionar, é só aceitar os estereótipos que eles já decidiu.
Um dia, cansei e abaixei o volume da voz deles.
Enquanto as vozes da minha cabeça conversavam umas com as outras, descobrindo-se, eles, lá fora, já me identificavam. Isso me irritava, muito, porque não conseguia entender como eles sabia quem eu era tão facilmente, enquanto eu não sabia.
Eu descobria novidades e mudava a cada dia, as vozes da minha cabeça aprendiam novos idiomas brincando de se cobrir e revelar.
Foi então que parei de ter raiva deles. O cartão de identidade deles é falsificado e insuficiente. Eles são ingênuos. São vozes, mas não tem cabeça. Eles não têm vozes que se descobrem e mudam. Eles acha que é detetive e que têm a chave da identidade, mas eles não sabem como é uma identidade. Eles acham que conhecem tudo e todos. Eles acham que sabem quem eu sou.


Brunaleira
25/10/2007 – 2:10 am
São Paulo, SP.
Rain.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Poesia do stress

Rapidão
zaztraz
trazzaz
aaaaah
vou sur
tar um
surto d
e falta
de temp
o
ou exce
sso de
coisas.
-mais o
último!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Entrelinha

Queria escrever uma linha
uma linha e pronto.
uma linha que desse conta de tudo
de tudo o que precisa ser contado
sem ser descontado
em ninguém
Mas que a linha fosse suficiente
pra tocar alguém
e que esse alguém incuísse a mim
Queria uma linha,
uma linha fina
nem curta, nem grossa
só uma linha completa
E certa
certa de sua competência
e competente pra afirmar sua certeza
sem dureza

Como uma linha de costura
delicadeza fininha
que enlaça de encantar
Mas precisa
de precisão e precisar
Uma linha, linhazinha
uma linha minha
toda minha e de todo mundo
Que, quando fica mudo
parece de ninguém
mas é aí quando é de alguém

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Brincando de crisear

Por que é que raios o mundo às vezes me acorda sem fazer sentido algum?
Fico sentindo um insensatez aguçada
Um não-sei-que de loucura desvelada

Sabe, é preciso cuidar da loucura
Senão? Ah, senão ela enlouquece!

Diria a ela agora:
- Vê se me esquece!
Ah, vá brincar com a cabeça de quem jogou seus parafusos fora,
eles te querem!

Não que eu não te queira..
Também arranco uns parafusos de vez em quando
É, no final, é só assim que me entendo.

domingo, 7 de outubro de 2007

Maldita macieira

Eu queria que a maçã não tivesse caído na cabeça do Newton
Queria que ela tivesse flutuado até voar além do céu
Que ele tivesse voado atrás dela

Assim, o chão não tentaria prender nossos pés
A força da gravidade não seria grave
E eu não faria greve de aceitá-la


Por que a culpa é sempre da maçã?
(Mesmo quando não falamos de Adão e Eva)

sábado, 6 de outubro de 2007

Cor de vinho

Numa ‘chaise-long’ ao fim de tarde, janela entreaberta, cortina suavemente esvoaçada. Pernas dobradas e sobrepostas, unhas recém pintadas, cheiro de uvas frescas, cabelos ainda molhados. Chega inesperado bilhete e, num súbito de decisão, Margareth levanta e vai ao encontro do remetente.
O lenço das índias ao vento na estrada curva. Na frente do café embaçado pela delicada neblina, vê-se a ponta do chapéu. A única rosa mais que vermelha que ele lhe entrega, faz maior efeito que um buquê inteiro. Os poemas levam a assuntos profundos.
Eis que toca o jazz pedido. Olhares decidem o sinal da dança, a curva dos pequenos e firmes pés desfaz-se lentamente, e ela cai no beijo intenso dos braços dele.
É madrugada de novo em Sevilha. A sombra da luz da lua, refletida pelo rio Guadalquivir, conduz a volta para casa, acompanhada apenas pelas estrelas, os gatos nos telhados, e a brisa da noite.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Não é tudo a mesma coisa

Oras, por que não publicar aqui também?
Matéria pro 'Notícias do Jardim São Remo' - jornal laboratório do primeiro ano de jornalismo da ECA.
(Apesar de toda polêmica quanto a confecção do jornal desta comunidade por alunos do primeiro ano, não tratarei esta questão aqui, apenas coloco o artigo feito pra editoria de cultura, cujo tema é bem interessante!)

Não é tudo a mesma coisa: os diferentes ritmos do hip-hop

Break dance, hip-hop free style e os dançarinos K.Belo e Cybernétikos

Por BRUNA ESCALEIRA


“Foi de última hora, terminamos de montar a coreografia nos bastidores antes de ir pro ar!”, conta Sebastião Leandro Rodrigues, o b-boy K.Belo, sobre sua apresentação no programa da Adriane Galisteu (que foi ao ar em agosto). Muita gente se surpreendeu ao ver o morador da São Remo na TV, e não foi a primeira vez: em 2005, participou do programa Dance o Clipe da MTV especial B-Boys.

Mas seu maior objetivo não é aparecer nas telas. Dançando profissionalmente desde 2004, K.Belo concentra-se nas competições de break dance para mostrar seu trabalho. Só este ano, participou de mais de dez encontros em vários estados brasileiros. As competições não servem apenas para ganhar prêmios, são oportunidades de se “expandir e conhecer novos horizontes, ganhar é conseqüência”.

Mesmo sem patrocínio, Sebastião sempre dá um jeito de ir aos campeonatos, recebendo ajuda do irmão para pagar as inscrições e passagens, além de se hospedar nas casas de companheiros de “batalhas” (como são chamadas as competições).

Dança não é apenas técnica, mas história. O break é um dos estilos que integram a cultura hip-hop, ao lado de outras modalidades, como “popping”, “locking” e “house”. À partir do contato com veteranos da dança de rua, K.Belo conheceu cada uma delas e passou a misturá-las em suas coreografias. O grande trunfo de um b-boy é o “free-style” (estilo livre), é preciso ser criativo e saber improvisar. “Não me prendo a uma linha de dança, misturo passos de frevo, afro, samba e até salsa”, revela.

A diversidade de estilos está presente na comunidade. O NJSR entrevistou um grupo já conhecido dos salões locais que representa o “hip-hop free-style”, os Cybernétikos. Assim como K.Belo, os dançarinos vêm ganhando reconhecimento dentro e fora da São Remo através da participação em campeonatos. Everson Magnavita, um dos fundadores, foi contratado pela equipe do seriado e filme “Antônia” para fazer shows com o elenco.

“Desde a primeira vez que fomos a uma competição, tudo mudou! Adquirimos uma visão mais profissional, aprendemos a compor os elementos da coreografia com o palco, figurino”, diz Everson. Isso aconteceu em julho de 2006, quando ficaram em quarto lugar no “Dance Fest” de Campinas. O objetivo do grupo é viajar para competições em outras cidades, estados e quem sabe um dia, outros países.

Os campeonatos de que os Cybernétikos participam não são os mesmos freqüentados pelo b-boy K.Belo, pois dançam em categorias diferentes. “Já dançávamos há 8 anos quando fomos ao Dance Fest, e só então encontramos nosso estilo, que é o hip-hop free-style. Mas cada um chama de um jeito, alguns dançam como nós e dizem que fazem street dance”, contam. Para o grupo, a denominação mais adequada para sua dança é o hip-hop de estilo livre, e não o street dance, pois não dançam nas ruas, mas nos salões.

Uma das diferenças entre os b-boys e os grupos de hip-hop é o ritmo das músicas que coreografam: enquanto o break caracteriza-se pela batida “breakbeat”, os dançarinos de hip-hop usam músicas mais melódicas como o “R N’ B” (ritmo e blues) de artistas como os americanos do “B2K”. Contudo, partilham influências como os passos popularizados por Michael Jackson.

Todos os estilos de dança citados são ramificações formadas na história do hip-hop, mas a maneira como são chamados varia conforme a região. O grupo Cybernéticos, por exemplo, antes de se definir pelo hip-hop estilo livre, dançava uma modalidade conhecida como “lagartixa” nos bailes locais, mas que se parece com o “soul” dos Estados Unidos. Apesar do hip-hop ter chegado ao Brasil por influência norte-americana, seu desenvolvimento, desde a década de 1980, incorporou características nacionais e, graças ao estilo livre, cada dançarino pode trazer uma inovação.


Curiosidades:

O break surgiu como protesto à Guerra do Vietnã na década de 1960. Os primeiros b-boys/girls eram jovens porto-riquenhos que viviam no bairro no Bronx em Nova York. Eles representavam movimentos dos feridos na guerra e as armas utilizadas pelos norte-americanos – o passo em que o dançarino fica com a cabeça no chão e gira as pernas representa um helicóptero.

Mexendo as cadeiras. A expressão hip-hop vem do inglês: hip quer dizer quadril e hop, pular.


Um pouco mais sobre cada estilo:
(Umas coisas legais que achei por aí – usurpado de
http://www.pcg.com.br/eblack/02.htm)

Up Rocking – criado entre 1967 e 1969 pelos dançarinos Rubber Band e Apache (idealizadores da crew Dynasty Rockers), no bairro do Brooklyn (NY). Este estilo consistia na simulação de uma luta. Extinto no inicio dos anos 70, alguns de seus passos reaparecem junto as coreografias dos b. boys do bairro do Bronx (NY). Cabe lembrar que o dançarino de up rocking era denominado de rocker.

Locking – criado por Don Campbellock no final dos anos 60, em Los Angeles. Pode-se dizer que este estilo fora inventado acidentalmente pelo fato de Campbellock nunca ter conseguido interpretar corretamente os passos do funk chicken (estilo popularizado por James Brown em suas apresentações). É importante lembrar que o dançarino de locking é denominado de locker.

Popping – criado por Boogaloo Sam, natural de Fresno (Califórnia). Num sincronismo de braços e pernas o popping estiliza o pipocar (pipocas estalando) de movimentos. Boogaloo Sam também fora o criador do estilo boogaloo style em meados de 70 e o passo denominado de backslide, usurpado por Michael Jackson e popularizado com o nome de moonwalk. Vale ressaltar que o dançarino de popping é identificado pelo nome popper.

Breaking (B. Boying ou B. Girling ) – ao contrário do nome break dance, popularizado erroneamente pela mídia americana, este estilo não apresenta o nome original do seu criador. Contudo ele fora adotado e desenvolvido pelos garotos do bairro do Bronx (NY) entre 1975 e 1976 nas block parties (festas de rua) ao som dos rítimos latinos, soul, funk e jazz. O fato curioso sobre o nascimento deste estilo, é que ele fora desenvolvido pelos adolescentes da época, que por não conseguirem imitar corretamente seus irmãos mais velhos e seus pais, que dançavam embalados pelo soul, acidentalmente acabaram criando um estilo mais radical, incorporando inclusive na suacoreografia, movimentos que iam desde mímicas e acrobacias olímpicas, até a estilização de capoeira e catares de lutas marciais. O termo break foi adicionado a sua identificação, devido a predileção destes jovens pelo momento instrumental oferecido pelos discos (break beat), aonde faziam das pistas das festas o seu palco principal. Ficaram então conhecidos como break boys ou b. boys. Já termo atribuído às mulheres é b. girl. Dentre tantas gangues de breakin’ pode-se destacar a Rock Steady Crew com uma das mais populares em todo o mundo.

domingo, 26 de agosto de 2007

Chuva de água

*

É assim um não-sei-bem, mas eu gosto, não-sei-porque. Se é de você, eu falo, eu vejo, eu sinto eu digo todo querer. Sem parar, mas sem pressa, sem nem perceber. Quando você chega eu percebo só depois de uns dois minutos, porque você só materializa o que, pra mim, já estava perto, sempre está. É assim, você nem sabe, mas me acompanha pra todo lugar. As pessoas percebem sua presença junto a mim, mas elas não sabem disso, ficam se perguntando de onde vem a energia extra que emana daquela garota empolgada que sou eu, na maioria das horas dos dias.

O vento quando fica molhado por causa da chuva parece história pra criança, cantiga de roda no quintal dos avós, é por isso que escrevo assim que nem quem canta pra ninar. Quando o chuvisco é frio por causa do céu cinza, fica tudo sério querendo te arranhar, e se você tem que ser adulto nos arranha-céus cor-de-concreto, o pensamento anda em degraus retos, não em rampas ou escorregadores ternos. Mas tem um jeito de fazê-lo andar em escada caracol, o que é bem mais divertido do que escadas retas. É só escolher uma capa de chuva. Só que ela não te protege da chuva, mas faz os pingos te atingirem de verdade.
Quando se é adulto em arranha-céus-cinzas, se esquece que a chuva não é de arranhar; se aprende errado que o ruim é ficar molhado, só porque depois tem remédio pra comprar. Tão engraçado ficar estressado por ter que consumir aquilo que se trabalha pra vender, o que não dá e deixar de se molhar por medos alojados fora de lugar. A menina de tranças meio-feitas-mais-desfeitas bem sabe, é ela que devia ser ouvida, fez a manhã toda de meia-hora numa poça de chuva, dali tirou rio, homem, avião, até calculadora. Depois reclamam da falta de combustível, digo combustível vital, esse não falta, nem em quadriculados de concreto arisco, tá no pé na poça de chuva, no olhar no céu, no sorriso de vento de ternura – aquele que sopra no quintal dos avós.
Pois então, aquela capa de que eu falei, ela deixa sentir tudo sem vão, deixa nascer coisas grandes de simples tranqueiras. É o combustível que a menina das tranças tira da água com terra pra fazer brincadeira, traquinagem, lição de casa e poesia pra mãe. Depois que fiquei mais adulta, o caminho que tenho que percorrer todo o dia não passa mais pelas ruas que têm poças e os pingos da chuva pareciam mais feios. Tinha deixado minha capa em algum lugar que nem São Longuinho parecia conhecer.
Um dia percebi que o sol girava que nem gira-gira e espalhava folhas douradas pela cidade toda – aquela cidade que já não tinha mais poças nas ruas, ou estavam em ruas escondidas. No dia seguinte, o vento do chuvisco bateu macio nas minhas bochechas quando abri a janela de manhã, já atrasada. Até o atraso era relaxado, abria caminho como água no vidro e chegava afundando na almofada depois do tobogã. Alguém perguntou se eu tinha roupa nova, se tinha cortado o cabelo, se tinha ganhado flor, e respondi com um riso distraído de nuvem ensolarada.
Só depois parei pra reparar: a capa, ela tinha voltado! Não só tinha voltado como era nova, era mais complexa. Tinha cabelos castanhos, voz grave, olhar profundo e um nome. Não sei bem dizer porque é esta a capa, mas não dá pra se dizer mal, de jeito nenhum. Sei que fiz ela me acompanhar por todo canto desde então. Então pararam pra elogiar a luz dos meus cabelos, quando percebi, depois de uns dois minutos, que ele já tinha chegado, já estava do meu lado e fazia-me sorrisos que os outros, então, entendiam.


*

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Morangos pra desatinados

09/08/07 – 1:37 a.m.

E vim parar aqui. O computador já estava ligado, como que preparado pra receber meus pensamentos atordoados, que têm mania de alojar-se em letras. Vontade de escrever, mas preguiça de existir. Queria que as letras existissem todos os problemas por mim, que me anulasse nelas, sem ter que dar satisfação pra mim mesma.


Satisfação; por que nos cobramos tanto? É um tanto injusto cobrar-se felicidade o tempo todo, felicidade torna-se obsessão, o que não traz nada de bom. Obsessão desloca-se de um objeto pra outro, sem atingir objetivo algum, porque sua finalidade não tem conteúdo, é nada senão a vontade de atingir, suceder, completar.

Deparei-me com uma caixa de morangos. Mesmo sabendo que os morangos não resolveriam meus problemas com laranjas, desejei entupir-me deles, que eles me completassem sem deixar lugar pra complemento. Assim como me afogo aqui nessas letras e no tempo.


Tempo; por que lembrei que ele existe? Ah, sim, lembrete no mural “8:30 da amanhã, amanhã, dentista”. Terrível espacialização do tempo que o torna assustadoramente real e delimitador. Delimitado o meu tempo pra escrever mais, por hoje.

*

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Diario de bordo (sem acento, mas "ao vivo"),
soh pra sentir um gostinho de 'correspondente internacional' ;p

e como nao vai dar pra postar algo longo,
aih vai, direto da volta no bonde (eh, aqui tem aqueles bondes antigos;)


.Papel de pao.
Caneta na mao
Cabeca no ceu
O mundo no chao
Ou nao, na mao

Vento do ceu
Papel sem chao
Ao leo, no chao
Eh um sim sem nao

Coracao de papel
No ceu, na mao
Nao quer um nao

Fica sem chao
Encontra o papel

Papel de pao na mao.

Bruna Escaleira
19 de julho de 2007 - Sao Francisco, California


(Qum tenta brincar de enxergar os acentos e cedilhas?! haha)

> Indo pra Nova Iorque,
saudades do Brasil!

Beijos 'americanos'!
Bru!

domingo, 1 de julho de 2007

Sempre em cena

Sei lá. Quando começo um texto assim é porque não sei bem seu objetivo, aliás, não sei bem meu objetivo e, por isso, acabo indo escrever. É... É como se me acalmasse a alma, como se o ritmo das palavras reproduzisse a energia que me envolve, ou que a fizesse envolver-me. Como se fizesse correr os pensamentos mais livres do que na mente, sem todas as regras, os planos de fundo, os contextos, as memórias que os limitam. A folha em branco é um infinito de liberdade, um indeterminado informe que pode formar qualquer coisa, tudo e nada. É o ideal de permitir. Escrever assim quer dizer permitir-se levar pelos pensamentos, criar, perder-se, encontrar-se.

Quanto costumamos nos permitir? Permitir-se plenamente é algo realmente raro, mais do que parece. Permitir-se desligar do mundo exterior pra ouvir o ritmo do coração bombeando o sangue deitado no chão; comer tudo o que apetecer no momento, mesmo que não seja ‘hora’; acordar mais tarde e sentir o calor do sol à janela, sem protetor solar; acabar com o tubo de hidratante aromatizado caríssimo em um dia; sentir o aconchego de um banho tomado; ligar a TV num filme já começado, sem prestar atenção no roteiro, apenas porque a energia da cena agrada; falar o que se sente, sem ligar pra insegurança do que esperar como resposta; desligar o celular; não fazer cronogramas; dormir cedo num sábado à noite e varar a madrugada na segunda-feira; escolher um tema inovador mas incerto pro trabalho; pesquisar sem certeza de confirmação; misturar azedo com salgado pra ver no que dá; admitir não saber o que se está fazendo.

É certo que nos permitimos fazer essas coisas de vez em quando, quando saturados pelas preocupações de atuar o tempo inteiro, mas parar de atuar parece-me algo muito raro para o ser humano, tão cheio de conceitos e convenções sociais, preso a sua imagem e à dos outros. Permitir-se quer dizer parar de atuar até para si mesmo. Sim, isto parece ser o mais simples, quando é o mais complicado. Atuar pros outros significa usar uma máscara social que pode ser discretamente levantada de vez em quando, preocupa-se com a visão que os outros fazem de nós, mas podemos tirá-la ao chegar em casa. Só, frente ao espelho, é muito mais difícil despir-se, esforçamo-nos para crer que aquela imagem é nua, autêntica, mas nem sempre é. Afinal, queremos acreditar naquela imagem para que os outros confiem nela, é mais difícil desfazer-se dela pois mostra o que queremos ser, determina nossa maneira de agir.

Ok, tudo isso pode ser verdade, mas se a tal imagem da qual não conseguimos nos desfazer foi criada por nós mesmos, ela não é autêntica? Pode ser. Entretanto, representa um molde que buscamos seguir para afirmar nossa personalidade. Às vezes, tomamos atitudes só para que combinem com esta ‘personalidade’, quando, na verdade, gostaríamos de tomar outras e é aqui que começa a atuação. Permitir-se quer dizer admitir que nossa individualidade tem suas exceções, seus defeitos, que continuamos a ser nós mesmos apesar de contrariar a imagem que formamos. A Bruna gosta de vermelho, mas hoje, preferiu optar pelo azul, e continua sendo a Bruna.

Sei lá. Saí de uma dúvida sem objetivo e encontrei um num texto. Quem sabe, tenha conseguido usufruir da ‘permissão’ da folha em branco – um pouco mais colorida agora - e alcançado os bastidores!

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Vontade de não ir embora, mesmo sem motivo de ficar
Ficar só pela companhia
e pelo des-objetivo de ver o que ainda tem pra acontecer antes do final do dia...
Voltar pra casa, pros deveres embaçados, que custam a enxergar-se concretos;
sempre protelados, trocados por des-deveres desinteressados de objetivos utilitários.

Surtos criativos na madrugada
Pensamentos soltos projetados em letras
Só pra acalmar a mente agitada.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

O dito cujo


Não sei o que acontece que debilita minha capacidade escrever um texto sobre um acontecimento muito intenso e recente. Talvez seja o quase esgotamento do tema nas conversas da semana posterior inteira (e partes das semanas seguintes). Talvez seja a dificuldade de juntar todos os fragmentos do evento e organizá-los num texto só – tudo faz sentido no brainstorming, mas na hora de juntar, a ordem das peças muda e sempre parece que falta alguma.

Peraí, duvido que alguém tenha conseguido reunir todas as peças, cada narrativa é bem diferente! Todos vivemos o mesmo Juca, mas cada um criou o seu Juca, que vai lembrar e contar pros netos (ou não haha). É, pra quem ainda não tinha sacado, estou falando dos Jogos Universitários de Comunicação e Artes, que ocorreram num intervalo de tempo bem relativo, entre os dias 7 e 10 de junho, no longínquo vilarejo de Registro, interior de SP.

Milhares de universitários de 8 faculdades do estado misturavam-se e diferenciavam-se pelas ruas, ginásios, escolas, restaurantes e até casas de família da cidade. Calouros naquele mundo, logo aprendemos a peculiar língua jucana, entoada nos mais diversos volumes e sempre acompanhada por movimentos descoordenados e empolgados. A sua camiseta denuncia sua tribo e, por identidade reativa, você sabe que todas as outras são seus inimigos. Mas até o conceito de inimizade no Juca é relativo, é apenas um pretexto pra externar a energia jogando com gritos de guerra.

Outra coisa bem relativa é a integridade física e mental dos jucanos: limites entre cansaço e empolgação, sobriedade e ‘loucura’ são totalmente irrisórios. Logo no primeiro dia, descobri que o corpo tem alguns limites e que o sistema de serviços de cidades de interior, especialmente em feriados, também. Depois de uma aventura pelos hospitais e farmácias da cidade e de um certo “repouso” (repouso no Juca pode significar uma ou duas horas sem pular, gritar ou ingerir substâncias derivadas da cevada e afins), a energia amarela e roxa já me fazia pular novamente no jogo Mackenzie Vs. Eca, no Entro Esportivo Mário Ovas.

Nem só de jogos vivem os jucanos, as festas e a vida no “alojas” são capítulos à parte. O improviso e a convivência atingem graus inimaginavelmente estranhos e cômicos, mas que promovem a integração e intensificação das amizades (e da intimidade) como em poucas outras situações. Se pudesse criar um neologismo, diria que esta é a parte mais jucástica do Juca!

Como se já não tivéssemos enchido nosso repertório de histórias pra contar e já não estivéssemos preenchidos dos mais intensos tipos de emoções, presenciamos mais um fato histórico em 14 edições do Juca: a vitória da Eca! Sim, Egistro ficou roxo e amarelo! A energia da comemoração foi mais forte do que o penta na Copa do Mundo! Ninguém sabia mais a hora de parar, mesmo que as pernas não respondessem, a inércia da felicidade ecana nos movia.

É, chegou a hora de voltar, e, como tudo nesses quatro dias, até a volta pareceu não ter fim. Pra mim, o maior choque na chegada foi perceber como permitimos nos desligar totalmente do “mundo real” pra viver plenamente esses dias incríveis, embaralhados, estranhos, divertidos e eternos.

(Por fim, consegui falar sobre o Juca num texto com começo meio e fim – bem diferente das lembranças embaralhadas do dito cujo e sem as histórias pros netos, afinal, essas, além de envolverem direitos autorais alheios, merecem ser guardadas pra eles;)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Por que jornalismo

Quando pequena tinha sonhos e ideais de vida como um plano muito claro do futuro – plano que foi mudando com o tempo, mas sempre um plano. Sabia o que queria fazer, como queria “contribuir com o mundo”. Independente da profissão que escolhesse, ela seria apenas uma meio para alcançar os objetivos. Continuo achando que o importante é a pessoa que você se torna, seja médico, dono de floricultura ou pára-quedista, mas a profissão pode revelar muito sobre alguém. Pois é, acho que, pra mim, a descoberta veio ao contrário: preenchi a inscrição da Fuvest com a bendita carreira 242 porque era a que mais simpatizava, o surto de escolher jornalismo havia ocorrido dois anos antes, mas só depois os motivos foram vindo à tona. Mais do que conhecer a profissão, vou me conhecendo e descobrindo que meu surto no escuro foi um golpe de sorte certeiro.
Ok, agora vamos ao que já descobri: odeio rotina e isso não existe no vocabulário de um jornalista, o qual é bem vasto, pois ocorre comunicação o tempo todo, com todo o tipo de gente e por todos os meios; posso ser utópica, mas acredito que é possível sim mudar o mundo (ou partes dele) através da comunicação, aliás, apenas assim, o que me faz sentir feliz só por estar nesse caminho, mesmo que ele tenha desvios indesejados. Descobri que gosto de lidar com pessoas, que quero fazer entrevistas, investigar um mistério, denunciar o que ninguém vê, ajudar uma ONG, descobrir realidades sociais como elas são, gritar pelo meio ambiente, viajar sem destino, ficar um mês com os índios da Amazônia e escrever um estudo, tirar fotos escondida, rir com a equipe da redação, escrever uma crônica, organizar encontros, não ter hora pra chegar. Mas a melhor descoberta é que a descoberta em si é infinita.
No horizonte, vejo minha imagem daqui a 50 anos, vejo a trilha que terei traçado. Nenhuma delas tem contorno nem forma, são tão confusas como um adolescente em orientação vocacional. Mas elas têm vida e vontade de viver – acho que tinha razão quando era pequena, era essa a parte clara do plano do futuro. Por que jornalismo? Porque é uma profissão muito viva. Jornalista não por um objetivo concreto, nem por fama ou por dinheiro (seria melhor escolher outra carreira pra isso, não?), apenas por essa maneira de viver!

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Quem bate?

Quem bate à porta

Você bate na porta novamente
Corro a abrir, fosse o mundo desabar
E então paro, assim, de repente
Penso se iría a angústia acabar
E não tenho certeza.

Você bate à porta, novamente
Eu quero, eu deixo você entrar!
Mas não, não pode ser assim descrente
Displicente, simplesmente sem lugar
Lugar que já é seu.

Tão seu, tão meu, por ocupar.
Tão, tanto, muito mutuamente
Certo da incerteza de habitar
Pois já sem identidade, indigente
É você quem bate?

Eu bato à porta, eu mesma abro.
E você, onde foi parar?
Aqui, aqui mesmo, aqui dentro
De um mundo de possíveis a chegar
Que chegam sem parar.

Na sala de estar, espere
Se quiser, não há de se importar
Sem egoísmo, digo que espere
Pois a dúvida só calará
Ao encontrar-me nas possibilidades
E se mostrará sua identidade
Quem bate à porta é o revelar.


*****

Freqüência

Sintonizei a estação proibida
Permiti que as canções entrassem
Nas memórias nada perdidas
De perder-me nos teus braços
Nos pensamentos dos teus passos
Nos passos do meu caminho
Desviado do sozinho
Não mais

Nada mais de só, nem de apenas
Tardes de agitação serena
Nuvens de coisas pequenas
Desfeitas.

Tudo é grande, tudo agora
Permanente movimento
Pensamentos, sem demora,
Encontram-se, são vento.

Voam alto e longe
Somem no céu, cobrem o mar
Ouvem-se vazios, cheios de plenitude

Pois é, aqueles versos pequenos
Aqueles minutos, acenos
Nada têm de amenos

Chega de divagar
Só quero ver voar, ir e voltar

Viajar, encontrar

Sentir, descobrir

Perder-me.


*****

Pra curtir uma poesia

Tem que ser bem de perto
Ao concerto do som certo
Sem pressa, sem malícia

Tem que ser acompanhado
De sentimento acalorado
Sensação propícia

Tem que ser em labirinto
Zigue-zague de extinto
Sem demora, sem senão

Largar tudo de ante-mão
Descobrir a emoção
Acoplar o coração
à mente.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Do nada a lugar nenhum


(Ok, talvez este não seja o melhor texto para inaugurar o blog, mas ele foi um dos motivos de sua criação, já que não conseguia postá-lo em meu flog. Além do mais, nessa ânsia de declarar, que começem as delcarações logo ;)


Do nada a lugar nenhum

Desculpe, exaltei-me. Novidade, discussão, hostilidade, desgaste físico e mental, incertezas. Tudo junto levou-me a exaltação exacerbada. Não que a exaltação deva ser condenada, desculpo-me por ter externado minha irritação clamando idéias das quais, agora, não tenho tanta certeza. Penso por um lado, por outro e outros. Passo por diversos ângulos, mas acabo chegando a lugar nenhum. Nem ao menos ao lugar de onde parti, pois ali havia alguma segurança, mas a um descampado sereno de tão tempestuoso.

Estamos em greve. Legitima. Oras, em uma assembléia à qual compareceram 80 dos 400 estudantes de jornalismo da ECA, 50 votaram a favor dela (números ‘calculados’ no chute, só pra ter uma base, não levem ao pé da letra). Sim, a assembléia foi legítima, afinal, era aberta a todos os estudantes da categoria. Mas representativa? Creio que os quase “20%” presentes não merecem a autoridade de representantes gerais.

Mas por que os outros não vêm representar-se então? Horário pouco viável, cansaço da hostilidade dos “de sempre” ou alienação?

Outro problema são os interesses infiltrados nas manifestações estudantis, bem como o foco do movimento. Tenho medo de me envolver, depois não concordar com o resultado e pensar que contribui para algo que vai contra meus princípios. Além de haver controvérsias sobre a estratégia de luta (os meios importam sim!). Contudo, não quero apenas ficar “em cima do muro” e não participar de algo que me afeta também.

A verdade é que tenho receio de me envolver nesse movimento simplesmente por não ter base de conhecimento político para analisar, fielmente, os decretos e suas interpretações. Aliás, creio que esse é um problema das leis em geral – permitem diversas interpretações. A negociação é eterna.
Mas e a “democracia” ? Até quando impedir os que não concordam com a vontade da “maioria” (da assembléia) de ter aulas é democrático e não imposição? O que me incomoda, de fato, não é a decisão da assembléia, mas o modo como foi decidida. Pareceu mais uma tentativa de convencimento do que de diálogo. Afinal, até onde a democracia funciona sem ser impositiva? Impor a vontade da maioria continua sendo imposição. Creio que não acredito em democracia, mas em “autocracia”.
Cada um por si? Quem, em sã consciência, diria que a sociedade funcionaria melhor assim? Utopia. Utopia de que se todos tivessem valores de consciência social convictos, cada um poderia decidir sua própria posição e ninguém precisaria impor nada aos próximos. Cada um agiria de acordo com suas idéias, mas não feriria os direitos dos outros, pois uma solidariedade onisciente estaria impregnada entre os homens (ooh, Hume deve ter pulado agora! Calma Hume, não disse que constatei isso, foi só uma utopia*). Cada indivíduo seria autônomo, não subjugado à vontade da maioria ou de uma minoria, mas sua posição não prejudicaria o grupo.
Ponho em dúvida a sanidade da minha consciência. Mas, finalmente, consegui chegar a alguma mínima conclusão depois de tanta divagação (será que alguém tem paciência de ler essas viagens além de mim?): nenhum sistema de governo é perfeito, afinal, as relações entre as pessoas não são regulares e as pessoas não são perfeitas. Portanto, nos resta tentar nos adaptar e adaptar o sistema conforme as necessidades da sociedade. A sanidade que me resta diz que isto é algo complicado. Mas a humanidade sobrevive, há milênios, movida a conflitos.
Não tenho resposta para o atual conflito estudantil, mas a imposição de idéias dos grevistas ou dos não grevistas, certamente, não é uma delas. Afinal, de que adianta impedir quem é contra a greve de assistir aula se eles só se sentirão violentados e não entrarão na greve ativamente? Seria apenas pura paralisação. E de ‘paradas’ já chegam as verbas que não conseguem ser utilizadas na universidade.

*Odeio ler textos que fazem referência a vários autores e só me fazem sentir burra, mas sabia que alguém iria pensar de onde raios eu tirei isso.. o.O

Agora tenho que ir deliberar,
O meu ego, meu id e meu superego ainda não entraram num acordo!

Bruneca'*

Boas vindas<

Este blog foi criado num súbito criativo de vontade de postar declarações.

Usava o fotolog 'www.fotolog.net/subbito' para fazê-lo, mas devido a problemas técnicos, frustrei-me tentando publicar novidades lá. Tenho muito mais disposição para divagações sobre qualquer assunto do que para lidar com problemas digitais. Então, muito melhor criar outro blog, 'novinho em folha'!

Sinta-se à vontade! ;)

Bruneca'*