sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

novas janelas

Sou uma pessoa pensativa, por isso, passei boa parte dos meus tempos de ócio apoiada na janela do quarto olhando, viajando, pensando com a vista. Como certas características das pessoas mudam mais dificilmente do que a tecnologia, não perdi meu hábito de pensar-sem-freio, mas passei a olhar pra outra janela. Existem janelas dos mais variados tipos, e elas sempre parecem convidar à reflexão de alguma forma, por abrir um campo de visão pra além do ambiente onde se está. Tem gente que pensa com a porta da geladeira aberta, com o chuveiro ligado no banho – o que, aliás, não é nada saudável pro meio ambiente – e até olhando pra comida que assa no forno (e não falo só de cães). Mas hoje em dia, muita gente não tem tempo, sequer, de parar em casa pra abrir a geladeira, quanto mais pra ficar apoiada na janela. Tem muita coisa pra ser feita em muito pouco tempo, que não pára – a não ser que caia a conexão. A velocidade da vida medida pela da internet. Quase arrisco dizer que pessoas com acesso a conexões de alta velocidade têm mais chance de sucesso. Exagero, mas nada demais se comparado ao desespero causado por alguns minutos de “queda” da rede em pleno dia de trabalho. Você já reparou como desviei do assunto do começo deste texto? É exatamente isso o que ocorre, o tempo todo, quando se usa a internet, a rede. E isso tem tudo a ver com as janelas. Um link leva a outro e, quando se percebe, há vinte janelas abertas ao mesmo tempo na tela do computador. De certa forma, esse universo virtual caótico assemelha-se bastante a nossa própria mente, creio que é por isso que acabamos pegando gosto pela coisa relativamente rápido: num dia você não sabe o que é um mouse e, no seguinte, não consegue pensar em seus afazeres sem abrir o e-mail. (E como a rede não é linear, depois de uma volta, acabei chegando ao ponto que queria tratar desde o começo do texto:) Meu e-mail é minha nova janela de pensação. Não aposentei a janela do quarto, porque ela é única, é algo diferente, mas, você que trabalha na internet, pare pra pensar quanto tempo olhou pra janela do seu quarto e pra de um computador hoje? Quando percebi que tenho olhado muito mais pra segunda, fiquei preocupada, “estarei eu mudando minha forma de pensar por causa da tecnologia?”. Mas então reparei: toda vez que abro meu e-mail pensando numa coisa, vejo os assuntos recebidos e acabo me distraindo com outras coisas, até que, quando dou por mim, nem lembro mais no que estava pensando primeiro. Exatamente como acontece quando me apóio no beiral da janela. Nesse meu cotidiano louco e sem rotina, às vezes, chamadas de e-mails funcionam como tipos peculiares passando na rua e desviando o vôo do pensamento - que é como um balão cheio de ar que voa, vai voltando ao chão, quando é rebatido por alguém ou alguma corrente de ar inesperada. E eu, que nem sou “aquela” entusiasta da tecnologia, acabo falando dela sem querer.