quinta-feira, 23 de abril de 2009

descascaradme como mandarina

si cada ansia a habitarme fuera un gajo
sentía como si les hiciera herramientas
anulándose en interminables quehaceres
que ya casi ni me sabían, se me habían olvidado

de mi cuerpo hice recuerdo, yo misma
mi piel nada sentía, fuerte frente al esfuerzo
o por falta de distracciones dignas?

hasta que un día se me enrollaran los gajos
fuera viento u tempestad? nada, huracán!
intenso como mis batallas, lleve como un pájaro

suavemente, atingió la memoria de mi pulpa
y arrebató mis ansias de un solo golpe!

mi cáscara, ahora, puede volar
y luego rehacerse completa

claro que es disparate hablar de amor y trabajo en el mismo poema
aún más juntarlos a otros ideales dispersos en los días
pero hay algo que los une, unos a otros y a mi:
la intensidad que nos deshace y luego nos torna plenos

así, entiendame cuando pido: descaradme como mandarina!
y tu lo haces antes de oírlo, pues sabes que al desmontarse
uno encuentra a si mismo y a todas sus pasiones

quarta-feira, 15 de abril de 2009

para ser Amigo, preencha a ficha.

Hoje, voltando pra casa, tive que frear antes da hora, porque um carro estacionava à frente duma casa pouco antes da minha. Chovia bastante, mas pude ver que era o carro do namorado da minha amiga que mora ali, e que ela também estava dentro. Por um segundo, hesitei cogitando se parava e dava um oi ou passava reto, pra deixá-la à sós com o bofe, e ligava depois que chegasse em casa – ou quem sabe mandasse um sms, ou um scrap no orkut depois, ou deixasse pra comentar outro dia quando nos vermos pessoalmente. Logo larguei mão e abri a janela do carro ao lado deles, mas só o fato de ter parado pra pensar me soou estranho.

Ela é uma das minhas melhores amigas, que conheço há anos, desde moleca – e como éramos molecas aos onze anos! Mas ultimamente não temos nos falado tanto. Não ocorreu nada de errado, nada de brigas, distanciamentos, apenas algo da vida que ocupa cada um em seu rumo e, às vezes, desvia uns dos outros. Algo que pode e, provavelmente, será revertido em algum momento próximo, porque é o que acontece na maioria das vezes e dos casos de amizades próximas. Esses vai-vens da vida.

Bem, à janela aberta, ela disse antes que a chuva respingasse mais dentro dos carros:
- Oi amiga! Como cê tá? Acabou de chegar da facul?
- Oií! Tudo bem sim, e aí? Pois é, acabei, e você?
- Também, agorinha!
- Pois é, e acredita que nem conseguimos fechar o jornal que era pra segunda ainda?
- Sério? Que coisa! Mas você ta fazendo só isso agora, né? Já saiu do trabalho?
- Que nada, to trabalhando, mas esta sexta é o último dia!
- Ah, que bom, aí vai ficar mais tranqüila, né?
- É, espero.. hehe.. E você?
- Ih, amanhã tenho prova, to ferrada!
- Ah, e o feriado?
- Vou viajar pros jogos da faculdade!
- Ah, jura? Olha, Fulano, você conseguiu um feito, ela nunca vai pra esse tipo de viagem! – ao que o rapaz sisudo respondeu com um sorrisinho amarelo, apesar de parecer que estava indo mais com minha cara do que no começo da conversa. Podia xingá-lo de antipático, mas acho que na hora era sono mesmo.
- Pois é, menina, decidi! Hehe E você?
- Vou pra praia..
- Com o “namo”?
- É, e mais uns amigos..
- Que delícia.. Bom, mas tenho que ir terminar o trabalho..
- Eu também, preciso dormir! Tchau, querida, vamos nos falando!
- Vamos sim, boa noite!
Fecham-se os vidros e o papo fica pra trás. Durante uns dois minutos, falamos sobre nossas vidas, tentando resumir “como elas vão”.

Falamos sobre isso mesmo? Vidas são muito complexas, a conversa iria continuar depois? Quando? Neste caso, é bem provável que realmente continue, mas me intrigou pensar que foi uma conversa como outra de conhecidos quaisquer. Quanta gente não nos conta seu “status” imediato casualmente, quase como se preenche um formulário? Quantas pessoas não “conhecemos” a partir de uma “síntese” de sua vida?

"Nome: Fulano de Tal. Profissão: Jardineiro. Estado Civil: Solteiro. Hobby: Jogar Pelada no Domingo. Feriados: Sem Planos de Viagens Próximas. Ocupado no Momento: Sim, com os Estudos. (silêncio) Tudo em letra legível? Já pode entregar e ir embora?"

Qual o significado por trás de cada informação dessas? Quanto elas nos dizem sobre alguém? Afinal, quantas das fichas guardadas em nossas gavetas realmente conhecemos?

terça-feira, 14 de abril de 2009

Conselho

Um dia me perguntaram por que eu não comprava um caderno de escrever – “pra dar vazão à criatividade”. Que ajudava a visualizar rimas, fazer poema brotar. Respondi que poesia não acontece em caderno nem em rima. Caderno até serve de berço, mas não de parteiro, porque poesia só nasce de parto normal.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

mensagem na garrafa

Agora que percebi que sou navegante, descobri a razão dessa mania de escrever mensagens pra que sejam encontradas, longe, por algum caiçara.
Talvez todo jornalista – de alma – tenha um pouco disso, uma certa distância que o faz analisar as coisas, ao mesmo tempo em que permite a ele se envolver com o mundo bem de perto.
Dizer que jornalista é um ser apaixonado é pleonasmo. Ao menos, na minha visão do que é jornalismo, na qual o trabalho está intimamente atrelado à “missão” de luta por objetivos. É certo que nem sempre ocorre assim – tão aí as capas dos jornais, revistas, sites pra comprovar -, mas isso não tira a razão de acreditar e buscar viver um ideal.
Quando esse tal de “ideal” – de luta, não de situação - parece virar cotidiano – cotidiano, aliás, nada comum -, a paixão pela profissão não tem mais onde se esconder.
Fazer jornalismo é estar diante do mundo, como num trampolim sobre uma piscina, e mergulhar aos poucos, suave ou bruscamente, de cinco ou cinqüenta metros de altura (na maior parte das vezes, de cem metros). É se espantar com cada sutileza ou “óbvio surpreendente”, na superfície ou lá no fundo, buscando aprendizado. É, ao escrever uma simples nota de 1/8 de página ou uma matéria de 10 folhas, ter a sensação de que se está passando muito menos do que se aprendeu ao apurá-la. E, ainda assim, crer que aquele pouco que se conseguiu passar adiante possa se transformar, ou ser transformado, em realizações, em mudanças.
(e toda essa paixão que já não me deixa viver em paz é a paz que alimenta minha ânsia de viver)