segunda-feira, 31 de março de 2008

No final, todo mundo é gente

Não sei por que ainda tem gente que move mundos e fundos pra querer se parecer com máquina. Quem foi que inventou as empresas, afinal? Tudo bem que um pouco de ‘hierarquia’ pode ser necessário às vezes pra manter a produção constante, mas aí é que está o problema: aposto que a maioria das pessoas não ia ligar se o ritmo da produção fosse desacelerado, quem faz girar engrenagem é máquina, é ela que faz a esteira de produção enlouquecer operários em fábricas.

As fábricas que não são feitas de engrenagens, mas de pessoas, e que nem tratam de produção material, mas de ‘humanidades’, às vezes, também se parecem com linhas de montagem, tão inseridas que estão nesse sistema. É o modo de vida capitalista empurrando as pessoas e elas se jogando cada vez mais dentro dele, querendo construir-se com concreto, quando são feitas de vida.

Antes que este texto vire mais uma crítica apenas ao capitalismo, esclareço, é mais uma crítica ao homem, desde sempre tropeçando pra tentar viver em sociedade. São as pessoas criando sociedades a partir das diferenças que não nasceram com elas, diferente das formigas, que já nascem com sua função. São os egos, orgulhos e discursos enrijecendo, quando surgiram de uma natureza nada dura, mas indefinida, viva e incerta, que forma o mundo.

Então a chefe chama o estagiário pra sua sala cinza cor de burocracia e pede que ele se sente na cadeira de metal frio de artificialidade, enquanto ela fica em pé, só pra ficar mais alta:

- Você não pode chegar 5 segundos atrasado, tem que avisar, e para nós, da diretoria. Nós temos uma hierarquia por aqui!
- Desculpe, eu não sabia.
O olha duro de pedra nem se abala, aproveita pra fuzilar o pobre recém chegado assustado um pouco mais. Mas não era crueldade, mais uma inércia de anos ali.

Todos voltam para os seus lugares. O garoto deixa o nervosismo escorrer pela cadeira e cair no chão 20 andares mais pra baixo, vai entrando no refrão da sua música preferida da semana e fica calmo, quase esquece.

Na sala cinzenta, toca o telefone, a chefe atende entediada. Até que um sorriso lhe rompe a dureza. Continua a trabalhar, chama mais subordinados a sua sala. Eles vão e vem, com expressões diversas.

Invariavelmente, uma hora, iriam começar a se identificar e conversar na sala ao lado. Então toca o telefone, era da diretoria de novo, “oh não, mais burocracia” ? Estariam fazendo barulho excessivo pros limites do isolamento acústico?

Nada disso:
- Pão de queijo.
- Pão de queijo? - responde o estagiário surpreso – Com qual recheio eu mais gosto? Não sei, talvez requeijão.
- É, esse é bom! Não conseguia me decidir, vou pedir uns, vê se mais alguém aí quer alguma coisa da lanchonete.

Não há nada absurdo em pedir pão de queijo, mas o que espantou o estagiário foi lembrar que gente tem fome. E a chefe finalmente demonstrou um traço de gente.

Quando foi embora, a mulher de salto alto ainda se despediu:
- Tchau, meninos!

Depois, o sub-editor voltou da copa sem sapatos, de meias. O escritório discutiu a classificação da primeira e da segunda divisão do futebol e todo mundo voltou a trabalhar leve. O ambiente ficou feliz, parecendo humano, nessas simplicidades sutis. Vai ver que era humano mesmo, feito de gente.

domingo, 30 de março de 2008

Vou falar de uma vez


, de qualquer jeito mesmo, só pra falar. Pode ser que fique feio e que nem goste de ler isto no dia seguinte, mas vou falar, só porque, às vezes, a gente precisa falar umas coisas pra nós mesmos e se é com a gente, deveríamos agüentar qualquer palavra nossa.

Palavra feia também vem da alma
É um resto de calma
Por mostrar que nem tudo precisa ser tão bonito assim
pra ser belo

terça-feira, 25 de março de 2008

Argumento

Tem algo mais louco que justificar uma loucura?
Bem, se uma coisa louca caracteriza-se pela falta de racionalidade, qual razão capaz de justificá-la?
Só algo racional pode ser traduzido em lógica, portanto, não é loucura.

Tá, e desde quando justificar a não justificativa de uma loucura é justificável?

Não é a toa que a racionalidade do ser humano o enlouquece, logicamente.

domingo, 23 de março de 2008

Lacuna ou “A partir de hoje, não te amo mais!”


“Eu não tinha mais o telefone dela na minha agenda. Não sei por que, não me lembro de tê-lo deletado. Por isso, quando atendi, a voz dela me surpreendeu!”, contava-me um amigo sobre uma ex-namorada que havia lhe telefonado. Como acabam as paixões? Talvez, do mesmo modo como se perdem os telefones – nunca se sabe, ao certo, como isto ocorre hoje em dia, com toda a tecnologia das agendas telefônicas.

Um dia, você é surpreendido por uma ligação inesperada, ou liga para um número e é avisado pela misteriosa voz do sistema que ele não existe mais. Aí, fica sabendo que não tem mais o telefone do ‘fulano’ ou da ‘fulana’. Não se sabe como, muito menos quando, o número mudou ou perdeu-se, só se sabe o dia em que sua ausência foi notada.

É assim com as paixões. Ninguém pode marcar datas como: “a partir de, especificamente, hoje, não te amo mais”; menos ainda, “desde ontem, te esqueci”; ou “a partir de amanhã, te amarei eternamente”. Paixões vem, aos poucos ou de uma vez, sem bater na porta. Do mesmo jeito, vão, sem aviso prévio e sem deixar ‘seguro desemprego amoroso’. E não dá certo tentar controlar quando a ficha deve cair deletando o nome do fulano ou da fulana da agenda telefônica.

Às vezes, tarda-se a perceber que uma paixão chegou e já se instalou totalmente. Mas, em geral, o mais complicado é perceber quando ela foi embora. Há vezes em que uma pessoa percebe a dita cuja da paixão saindo pela tangente e termina o relacionamento, a tempo de evitar maiores complicações. Ou não, porque, normalmente, a outra pessoa envolvida tarda a perceber o retiro do sentimento e não consegue se desligar do caso. É por isso que a grande maioria dos problemas dos casais tem a ver com sincronia.

O fato é que, uma hora ou outra, cai a ficha. Pode ser com um telefonema, uma frase, uma entonação diferente, um olhar, um toque, um cheiro. Descobre-se o que havia de errado: uma lacuna no espaço onde havia, também sem advertência, instalado-se uma paixão.

sexta-feira, 21 de março de 2008

intensismo

Aunque parezcan
llenos de maguas
Celos son tangos
de almas aladas

Confusa es la noche
bajo tu cielo
Hermoso es el beso
que llena el invierno

Pimienta es caliente
solo en la boca
Bocas son túneles
que abren el mundo

La danza aprendí
con las estrellas
La luna es cantante
y el río platea

En el oscuro
Escenas brillantes
Por la ardentía
de nosotros amantes

quinta-feira, 20 de março de 2008

Joie

Da música que queria ouvir, não tenho CD

mas eu a ouço mesmo assim

e ela me faz sentir bem

É como o rastro do vinho

que fica na boca, já a garrafa vazia

É essa a beleza das memórias

Pra contemplá-la, inventaram a melancolia

e é preciso dizer que não se está triste

é aquele sorriso de olhos abertos

segunda-feira, 17 de março de 2008

Fumê

Rosa era uma garota de classe média muito filha dos seus pais, mas em busca de independência. Achou que tirar a carteira de motorista seria seu passaporte para alcançá-la. Entrou na faculdade e ganhou um carro. Passou a fazer jus ao dinheiro gasto pela família no “prêmio” pelo escrupuloso vestibular diariamente, várias vezes por dia. Dividia as tarefas que precisava fazer em algum lugar só para ter que percorrer o trajeto mais vezes ao volante. No trânsito, distraía-se escutando a mesma coleção de CDs ciclicamente e descobrindo paisagens urbanas através do insulfilme.

Do outro lado da janela e atrás de outro vidro escuro, ficava Jaime, o porteiro do prédio onde morava Rosa. Durante dez horas diárias, o ex técnico de computação e jogador de futebol de salão nas horas vagas, conhecido pelos colegas de trabalho como “Jaiminho”, observava o entra-e-sai de veículos na garagem do Edifício das Margaridas. Quando mudou para o turno da tarde-noite, começou a reparar na freqüência com que um carro vermelho que refletia até a luz do pôr do sol passava pela portaria.

O prédio ficava num terreno mais alto que a rua e era preciso subir uma íngreme rampa para entrar na garagem. Antes de afundar o pé na primeira marcha para a subida, era preciso passar pelo primeiro portão, à beira da calçada, e parar logo em seguida para não bater num segundo portão à frente. Então, o primeiro portão fechava-se atrás do carro, que ficava preso, como numa gaiola, por alguns segundos, até que o segundo portão se abrisse – “Medidas de segurança básicas!”, repetia o síndico.

Eram só alguns segundos, mas a precisão na dosagem de acelerador-embreagem tinha que ser exata para IIIIIIIIHH! Ops! Para o carro não morrer. Banalidade um tanto complicada para quem acabara de aprender o que, raios, era uma embreagem. Rosa aprendera rápido, mas a pressão psicológica causada por observadores a deixava nervosa e atrapalhada. O ponto de vista através de dois vidros escuros camuflava qualquer observador, mas a menor sombra de uma silhueta desencadeava a insegurança na garota. A jovem costumava chegar bem tarde da faculdade ou de algum encontro com amigos e, já com sono, não podia evitar imaginar o observador oculto rindo de sua incompetência automobilística, “É nisso que dá, dar carro na mão de criança, essa daí parece ter uns 15 anos!”, ele devia dizer.

Um dia, depois de virar a chave três vezes para reanimar o possante, Rosa resolveu abrir a janela para tomar um ar e encarar seu adversário, o observador, nitidamente. A silhueta escondida na sombra ganhou traços de um homem magro, de cabelos encaracolados, que vestia um terno impecavelmente arrumado. Uma figura que não a deixava tão nervosa. De repente, um “Boa noite, posso ajudar?” surpreendeu-a, vindo da parede, ou melhor, de um alto-falante embutido na parede. Uma voz tornava aquele observador, tão distante, estranhamente real. Rosa, suspensa em indagações desse tipo, respondeu apenas “Tudo bem!” e finalmente conseguiu fazer o carro sair.

No dia seguinte, ao chegar na portaria, Rosa abriu o vidro novamente. Desta vez, surpreendeu-se com a claridade sobre o porteiro: o vidro da guarita tinha sido quebrado! Antes de perguntar o que havia acontecido, ela se entreteve observando aquele rosto nunca antes visto, parecia com alguém conhecido, com algum ator famoso, daqueles de Hollywood mesmo! Riu-se imaginando o Orlando Bloom abrindo o portão para ela todos os dias, e ela sem nem dar a menor bola.

- Boa noite, senhorita! - disse a voz real dele, não transmitida pelo alto-falante.
- Boa noite... É... Que que aconteceu aqui?” - perguntou a garota.
- Moleques, dona, ficam jogando futebol por todo canto! Acertaram uma bola aqui, sorte que ninguém se machucou!
- Ah, crianças são assim mesmo... Mas eu achava que esse vidro era blindado...
- Era mesmo, mas não era “fumê”, aí, o síndico mandou colocar insulfilme e tiveram que colocar este vidro comum provisório.
- Ah, sim... E agora você não tem medo de ficar aí?
- Medo? Se for pra ter medo, a gente não sai de casa, não é mesmo? Não que eu seja muito corajoso, mas é que, na prática, eu fico só vendo pessoas como a senhora entrando e saindo do prédio. Uns parecem um pouco arrogantes, mas a maioria tem uma cara simpática.
Rosa riu-se:
- Acho que eu acharia engraçado ficar observando a cara das pessoas que passam por aqui! Mas, sabe, eu achava que você, o senhor, não era real atrás desse vidro!
- É muito insulfilme nessa cidade, as pessoas não se vêem mais direito, o mundo vai ficando meio virtual mesmo...
- É, as pessoas se escondem no medo da violência, mas acabam é atraindo o mal só pensando nisso, é difícil... Bem, mas melhor eu ir pra casa, boa noite, seu...
- Jaime! Boa noite, dona!
- Rosa. Nada de dona, chega de insulfilme por aqui!

Jaime ficou pensando que, por trás daqueles vidros e barreiras comportamentais todos, devia haver muita gente interessante, como aquela menina. Resolveu não sentir mais raiva dos óculos escuros que pareciam esconder um ar superior, era tudo jogo de encenação, artifícios usados em sociedade que causam efeitos dos quais os atores nem sempre estão conscientes, de tão acostumados com as convenções.

Rosa, por sua vez, continuou com seu dia-a-dia ocupado normal, mas passou a andar de vidros abertos e a conversar com os vendedores de balas e entregadores de folhetos nos faróis, ainda que não aceitasse tudo que distribuíam. Também resolveu parar pra sentir o vento, olhar a cidade e falar com as pessoas na banca de jornal, por exemplo. Sentia-se mais parte do ambiente a sua volta.

A manutenção do vidro blindado foi rápida, instalaram-no, mais escuro, no dia seguinte. Quando chegou em casa à noite, Rosa abriu o vidro para cumprimentar Jaime, mas encontrou a guarita escura e vazia. Quando o segundo portão se abriu, lá estava ele, de pé ao lado do carro:

- Boa noite, dona Rosa!
- Boa noite, Jaime! Já falei que não tem dona nenhuma!
- Desculpe, é costume! Você viu que já colocaram o vidro escuro?
- Pois é, achei estranho mesmo, vi a guarita vazia...
- Eu saí pra te cumprimentar...
- Fez muito bem, Jaime, vamos acabar com esse negócio de isolamento urbano! Diga, como foi seu dia?

A conversa fluiu amigável e naturalmente interessante. Jaime descobriu que Rosa tinha um computador com problemas e ela descobriu que ele podia ajudá-la. Combinaram que, às 17 horas do dia seguinte, ele iria até o apartamento 21 portando seus conhecimentos em informática.

Depois de apertar muitas teclas e fios, o computador ficou tinindo. Jaime aceitou, ainda com muita vergonha, tomar um café com bolo junto a Rosa e sua mãe. Numa conversa amigável, contou a elas sobre seu interesse por tecnologia e seus planos para o futuro, trabalhar na área de sua vocação.

- É, bom rapaz. Bom e belo, até que não é de se jogar fora... – Disse a mãe de Rosa.
- Ai, mãe, não vem querer me arrumar partido! Sempre falei que vou ser solteira quando crescer.
As duas riram e o assunto morreu.

O fato é que o caso clichê de amor entre classes sociais diferentes aconteceu, logo depois que Jaime pediu demissão da portaria, pois teria que ficar à noite em casa para cuidar de sua mãe doente. Ao final de seu último expediente, deixou um bilhete com seu telefone debaixo da porta de Rosa, sabia que ela ligaria. E ligou mesmo. No final de semana, foi visitá-lo em sua casa e levou biscoitos que sua mãe mandou para a mãe dele. Depois, saíram e foram ao cinema, onde rolou o primeiro beijo e ela ganhou sua primeira rosa vermelha.

Eles moravam longe, ela estava sempre ocupada, ele não entendia suas ausências. Quando as discussões ficaram insuportáveis, decidiram terminar, mas foi pacificamente. Vez ou outra, ligavam-se, perguntavam da família, do trabalho. Um dia, o primo de Rosa virou gerente de uma Lan House e precisava de um parceiro, a indicação de Jaime foi imediata. Deram-se muito bem, o negócio cresceu e se estabilizou. Jaime nunca chegou a ir às reuniões da família de Rosa, mas encontravam-se nos aniversários do primo dela, sócio dele.

Um dia, aconteceu o improvável, Rosa iria se casar. Conhecera um alemão em suas aulas de salsa, amor ao primeiro passo, estava certa do que queria. Jaime seria o padrinho, foi o primeiro a saber, Rosa nem sabe dizer o porque ligou para ele antes de contar para suas amigas, um impulso. Ele estava muito feliz por ela, também namorava uma garota mais nova que o fazia feliz.

Uma semana antes do casamento, foram arrumar o apartamento que haviam comprado. Foi aí que começaram os desentendimentos. É que o noivo de Rosa gostava muito de cortinas. Cortinas, óculos escuros e insulfilme. Ela não agüentou, sentia-se sufocada com todas aquelas barreiras. Comprou-lhe o último modelo de óculos de sol da moda, chamou-o para uma conversa no parque e terminou com ele ali mesmo, debaixo das sombras das árvores.

Ele resolveu voltar para a Alemanha duas semanas depois. Nunca mais se viram. Ela sobreviveu bem. Mudou-se para um loft bem iluminado e arejado, largou um de seus dois empregos, o que não lhe agradava, de assessoria de imprensa; ficou com o outro, como repórter da sessão de entrevistas de uma revista e entrou para uma Ong de apoio a crianças com deficiência visual – o que a fazia mais realizada.

Noutro golpe do acaso, teve que fazer uma matéria sobre empresas de informática e chamou Jaime para uma entrevista. Estão namorando desde então. Estão diferentes, o jogo é aberto, não escondem nada um do outro. Se isto começar a acontecer, será hora de terminar, não dá pra viver nas sombras, nenhum dos dois gosta disso. Talvez Rosa até tenha perdido sua vocação para ser solteira, mas não perdeu a mania de dizê-lo, talvez nunca a perca. Quem liga? O que os dois querem é sinceridade - e isto parecem haver encontrado, no meio de tantos obstáculos e coisas obscuras.

sábado, 15 de março de 2008

A vez do silêncio





> Pra quem ainda não viu

(Resenha na gaveta pra um trabalho da facul)


Dizem que silêncio numa mesa de jantar, depois de servido o prato, é bom sinal para o cozinheiro, pois indica que as pessoas estão tão concentradas apreciando os sabores que até se esquecem de falar – e quando o barulho irrompe, são críticas positivas. Era este o clima da sala de cinema onde assisti o premiado sucesso dos irmãos Coen, “Onde os fracos não têm vez”.

O silêncio não era só da platéia, constitui um dos elementos de efeito mais marcantes do filme. A trilha sonora compõe-se apenas por ruídos de passos, pneus sobre areia, tiros inesperados e o som do vento desértico do Texas norte-americano. Isto somado a atuações brilhantes como a de Javier Bardem (ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel) leva, com êxito, o suspense intrínseco da trama para a tela.

Baseado no livro do norte-americano Cormac McCarthy, o filme narra a saga de perseguição entre o ex-soldado Llewelyn Moss (interpretado por
Josh Brolin), o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) e o assassino psicopata Anton Chigurh (Javier Barden) no Texas de 1980 - retratado em cenários com a simplicidade áspera e as cores características do clima árido do “velho oeste” estadunidense.

A “caçada” começa quando Llewelen encontra uma maleta com dois milhões de dólares junto a uma operação de venda de drogas que acabara em mortes. Os gangsteres mexicanos envolvidos na operação contratam Chigurh, que não hesita em cometer homicídios, para reaver o dinheiro, enquanto o xerife Bell segue seus rastros na tentativa de proteger Moss.

A esposa de Llewelyn, Carla Jean (na atuação de
Kelly Macdonald), privada de explicações do marido sobre sua fuga, vira moeda de troca em uma cruel proposta de Chigurh ao fugitivo, que não a aceita e arma um plano para que Carla fuja com o dinheiro.

A moeda é um objeto que aparece algumas vezes no filme, introduzindo a idéia de destino, quando o psicopata manda suas próximas vítimas escolherem “cara ou coroa” para decidir sua sorte.

Paralelo à investigação, o xerife Bell passa por um momento de reflexão em que avalia o caráter violento e impiedoso da natureza humana e decide se aposentar após o fim do caso. É esta a principal questão instigada pelo filme, uma visão sobre o comportamento e os instintos humanos quanto à violência.

A premiação com quatro Oscars, incluindo o de melhor filme, à sóbria obra dos irmãos Coen surpreendeu parte da crítica, acostumada a ganhadores que se encaixam mais no perfil dos “blockbusters”. O silêncio da exibição, enfim, parece emergir da densidade das reflexões propostas.

(Seleção de fotos de divulgação do filme acima bem melhores que a do cartaz mais conhecido - aquele com a sombra do Josh Brolin correndo no deserto, bem no meio do nariz do Javier Bardem, cujo rosto é o plano de fundo, que, pela iluminação quase em triângulo, parece mais um caçador de tesouros saindo de uma pirâmide! Veja no link: http://theoscarigloo.com/2007/contenders/full_movieimage_12526.jpg )

sábado, 8 de março de 2008

Novela*

Que maldição a dos roteiristas de periódicos, o prazo. Força-os a escrever independente de suas emoções e estados de espírito. Imagine uma discussão pesada num dia de sol ou uma cena de amor numa tarde de desilusão. Ou ainda, ter que escrever em português, quando o pensamento voa em francês. Ter que preencher uma hora inteira ou esmagar trinta minutos. Limites.

* Feuilleton

retiro

retiro muito do que disse
coloco o que não disse
e então, me retiro

- que tal um retiro espiritual?
propus aos meus egos

se não tivessem capitalizado até a espiritualidade,
eu ia pra um
melhor fazer um natural
alguém sabe a receita?

inventemos.
(assim que surgir ânimo)