segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Blog de viagem!

Só pra reforçar o recado do último post: minhas próximas declarações serão publicadas no http://pasos-y-miradas.blogspot.com!

Lá estão também os links para minhas fotos de viagem nos álbums do Picasa, link pro meu Twitter e tudo mais!

Alguns posts serão em português, outros em espanhol - afinal, acredito que as palavras ficam melhor na língua em que foram pensadas, elas se sentem mais à vontade. Mas se você não entender alguma coisa e quiser uma tradução, não hesite em pedir mandando um comentário ;P

¡Hasta pronto
Y has la victoria siempre!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ocO

Este é um post de apresentação. Vou viajar e deixar este blog, por enquanto, por um tempo. Talvez apareça um pouco por aqui. Talvez não. A razão é a mudança dos ares que aspiram as "declarações", talvez. Ou não. Em todo caso, aí vai o novo endereço: http://pasos-y-miradas.blogspot.com. Lá você encontra a versão original deste poema, em espanhol.;'

ocO

.I
encontro-me num vazio
entre sentir a tua falta
e estar contigo


quase tenho saudades de como terei saudades tuas
para que outubro chegue logo
e que chegues com o fogo
aceso pela distancia


queria beijar-te agora to todos os beijos
que nos faltarão nos dias de distantes
mas minha boca não tem calendário
e não nos permite fugir desta falta


.II
de repente começo a admirar, mais que nunca
a beleza das palavras no meu idioma natal
- porque em nenhuma outra língua há curvas
como os sons do português brasileiro!


mas não posso me esquecer dos saltitos espanhóis
que tanto animaram e animam meus ouvidos
e que vão me abrigar por uns meses
(porque a língua é para a mente
como a cama para o corpo)


.III
no entanto, o mais curioso são as histórias
poemas, crônicas, contos, livros inteiros
que começam a encher minha cabeça
e pedir que os escreva
- assim que chegue lá


mas há um risco imenso
quase certo e certeiro
de que mudarão quando chegue
- como posso pensar aqui
as historias de outro lugar?


poderia então escrevê-las agora
e depois escrever outras por lá
- não!
seria como trair seu cenário


deixemo-las amadurecer, talvez


IV.
afinal, o que é mais óbvio notar:
encontro-me num vazio de mim
porque não sei bem aonde me encontrar


teci um casulo com meus sonhos
pensamentos, indagações
e trago seu conteúdo em transição


então, digo a mim, espera!
que a transformação se concretize
(de tomar corpo, não parar)
e já vem minhas novas asas

quinta-feira, 29 de julho de 2010

piso.te.ando

É preciso pisar pedra pra ver quanta pedra ainda há por correr
___Porque de andar só o pé entende
_E pé prefere pisar espinho do que pisar em falso
Por isso quer mais é andar descalço
______E quer mesmo é andar bastante
- ainda que tropece a cada instante

__________Quem sabe mais de andar e de correr é só a rua
Que corre muitos pés, que correram muitas ruas e trilhas
_E anda vários pés de cada dia todo dia
__- porque cada pé muda a toda hora

E pisando nas ruas
__nada demora
__________pra andar todo este mundo afora

terça-feira, 13 de julho de 2010

O fabuloso dia do lançamento

*
*
I.

Não vejo a hora de lançar meu livro de poemas. Ah! A satisfação de ver um trabalho concluído, materializado na textura do papel minuciosamente escolhido. Ver meu nome, pequenininho, bem no final da coluna cultural da semana, espremido entre a mais nova exposição das bonecas Barbie e um Flash Mob em prol do aumento da crocância dos chocolates Bis – um dos mais importantes assuntos no momento, do Twitter para o Jornal Nacional. Quanto burburinho! Falem mal, mas falem de mim, EU, a mais nova AUTORA, já nas bancas, por apenas 9,99, em duas cores de capa! Ah! A estréia nos mais reduzidos salões da maior cidade da América do Sul, verdadeiro formigueiro de meio-intelectuais, meio-de-esquerda, acotovelando-se para me dar os parabéns em suas roupas especialmente rasgadas por grifes de brechós. Ah! A inveja daquele meu colega pedante que conseguiu a melhor bolsa de doutorado no exterior depois de algumas horinhas trancado na sala daquele professor decrépito. Os autógrafos! A glória! Os discursos do meu tio verborrágico na festa de final de ano deste ano, a foto três-por-quatro no mural da empresa, como funcionária do mês. A fama! Com a quina pontiaguda do meu livro, finalmente furarei uma brecha no impenetrável círculo de intelectuais que se reúnem na mais escondida sala dos porões da Universidade de São Paulo - a melhor da América Latina – todas as primeiras terças e segundas quintas-feiras de cada mês, às 14 horas e 37 minutos – exceto quando há lua nova –, para discutir os mais pertinentes impasses da neo-poesia macedônico-venusiana produzida pelos surdos da aldeia Waka-Waka. O status! O espetáculo! Os prêmios nos mais altos palanques internacionais! O dinheiro! As Ilhas Caimã! Os holofotes! O mundo!

E a morte da poesia.



II.


Veja bem, não é que o lançamento de uma compilação de poemas, em si, faça sublimar toda poesia despejada em seus versos. Afinal, sem a confecção e disseminação de livros, dificilmente, teríamos acesso à riquíssima variedade de olhares para o mundo das mais diferentes épocas e culturas.

A questão é que, frequentemente, a poesia se deforma para conseguir passar pelas grades da indústria cultural, pelas mãos do poeta ou pelas mãos invisíveis do chamado senso comum. O poeta se perde, torna-se uma marca, um ator no papel de autor. É claro que há exceções, mas está cada vez mais difícil passar ileso pelo filtro que transforma arte em mercadoria.

Será que ninguém mais para e se pergunta qual o objetivo da poesia? Na minha mera percepção, que não se baseia em estudos, teses ou críticas, o objetivo poético é qualquer coisa menos o material, menos o dinheiro, o status, porque é um desobjetivo.

Por mais idealista que isto seja, a essência da poesia não é algo capturável. É qualquer coisa, menos letras e sintaxe, apesar também ser isso tudo. Poesia é algo que simplesmente existe ou se forma, momentaneamente, dentro ou fora do alcance daquele que a traduz, ou a provoca, em palavras, traços, gestos e fica sendo chamado de poeta.

Um poema é a materialização de uma sensação, cena, circunstância, idéia, sentimento, contradição em uma substância não muito mais objetiva do que aquela que a provocou. É como um pó muito fino ou gás muito volátil embalado em um recipiente de vidro que, ao menor contato com o leitor, ouvinte, observador ou spect-ator (como diria o mestre Boal), se quebra e propaga seu conteúdo ao redor dele. E como cada leitor respira, observa e pensa de um jeito, cada um forma uma idéia ou sentimento a partir daquela substância. Um poema, afinal, nada mais é do que um propulsor, a ponta de uma pena que faz cócegas no canto da orelha, ao que cada um reage de uma maneira.

Concordem comigo ou não, é por isso que acredito que poetas só lançam livros porque, nesta sociedade, precisamos daquelas fichinhas chamadas dinheiro para sobreviver. Num mundo ideal, poesia seria lida no boca-a-boca, presenteada com laços de fita ou, simplesmente, lançada ao vento.
*
*

domingo, 13 de junho de 2010

.escrevemos porque não somos gatos

Poderia ser índia e atravessar, todo dia, os desconhecidos desafios da selva. Ou então, andarilha, para descobrir os detalhes do submundo, aos quais têm acesso somente os encrencados ou desprovidos de oportunidades. Depois, seria rainha, para sanar as angústias do meu reino com o simples toque do meu cetro. Seria viajante, poeta, artista de circo, executiva. Se dispusesse de tantas vidas, em uma delas, seria até freira, para investigar o que há por baixo das batinas.

Mas cada um, neste mundo, dispõe de apenas uma vida, única, incrível e imensurável oportunidade de explorar e mudar este universo enorme – o qual, um único ser jamais será capaz de apreender sozinho.

E é por isso que escrevemos. Na impossibilidade de viver todos os papéis em uma única existência, burlamos as regras do destino e escolhemos o papel de escritor. Sob tal identidade, ganhamos o inigualável poder de performar os mais diferentes papéis, viver infinitas histórias e experimentar os mais contraditórios pontos de vista. Tudo isso sem perder a identidade e sem precisar buscar o mítico poder dos gatos de viver sete vezes.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

im a ~

a eminência da pele

esse calor sem piedade

é tentação descarada

ainda que se esconda


qualquer pedaço de pano

não serve de obstáculo

tal essência de vinho

ultrapassa a garrafa

envolve e arrebata


e é tudo velado

bem no meio da praça

onde o toque consome

dois seres distantes

segunda-feira, 17 de maio de 2010

- me vê eu mesma, pra viagem!

odeio não ter um livro comigo quando estou sozinha

pra me fazer companhia

ou um pedaço de papel qualquer

pra me ajudar a fazer companhia pra mim mesma


é claro que estou sempre comigo

- nem que quisesse (e como já quis!), poderia me separar de mim

estou comigo mesmo na falta de papel e caneta


mas de alguma forma meus escritos me aproximam de mim

há algo de místico nisso

e ao mesmo tempo é tão racional

as letras que me brotam me desconstroem pra depois me reconstruir

como o técnico eletrônico que aprende o funcionamento de um relógio ao desmontá-lo e montá-lo novamente


não sou um relógio

e mesmo assim busco entender o tempo

mas sou eu mesma

e nem sempre me entendo

- estranho é quem não busca se compreender


o papel me ajuda na hora

mas serve também de embrulho pra viagem

guarda meus pensamentos quentinhos pra poder desmontar mais tarde

montar de novo, ler, reler, lembrar, esquecer

saboreá-los!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

letras para más allá del mar.;'

me escribo una postal antes de irme

para que la reciba cuando esté allá

más lejos que el alcance de mis piernas

pero tal vez más cerca de lo que puedo imaginar

y junto a mis sueños y aspiraciones


me escribo para que me acuerde de mí

que soy mi propia hermana

y aunque cambie muchas veces

no puedo negar a la genética


también me cuento sobre los de acá

las personas, las cosas, los sentimientos

para que pueda mirarlos con nuevas gafas

tal vez más limpias que las de aquí


y si hago promesas que podrán cambiar

es en la tentativa de amenizar mi ansiedad

por este viaje que siempre me pareció hecho

pero que ahora me cuesta creer en su veracidad

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Sustentação

Quando trombei com Miguel no corredor do escritório, sequer tinha visto que ele estava lá, à porta de sua sala – se o tivesse visto, não teria esbarrado nele, obviamente. Mas a recíproca, evidentemente, não era verdadeira. Seus olhos castanho-escuros fixavam-se no meu rosto com tal imobilidade, que era impossível dizer se fitava um detalhe hipnoticamente ou se, na verdade, estava absorto em imagens mentais e não enxergava um palmo à frente do nariz.

Impressionada, tentei ignorar aquele olhar febril para não causar maior constrangimento e estiquei-lhe as folhas do projeto com uma mão:

- Oi, Miguel! Aqui está uma ideia de redação da proposta. Dá uma olhada e pode sugerir as mudanças que quiser! – disse, numa tentativa de soar simpática e abortar o alongamento da conversa, antes que ela começasse.

Para meu alívio, a resposta veio mais calma do que esperava, natural e confiante, corriqueira:

- Ah, brigado, Marli! Que bom que você já começou a escrever! Vou dar uma lida e depois te falo! – disse, segurando os papeis com as duas mãos bem firmes.

Oras pra onde teria ido aquele nervosismo inicial, supostamente, desencadeado pela minha presença? Não entendi, mas me aliviei por fugir da ameaça de entrar numa onda de situações desconfortáveis.

Nunca vi fuga mais breve. A fala de Miguel parecia estar intimamente conectada às suas mãos, era o que as sustentava. No exato segundo em que concluiu suas frases, uma tremedeira frenética tomou conta de suas mãos e de seu corpo inteiro. Parecia até ter embaralhado seus pensamentos, porque quando esbocei um sinal de despedida, ele sequer compreendeu.

Na verdade, acho que não foi a tremedeira que cessou sua fala, mas a fala que conseguiu, momentaneamente, driblar aquela terrível inquietude. Afinal, frases formuladas são carregadas de palavras, que são nada além de conceitos, recortes de mundo através de um ponto de vista. Apenas isso, e têm o incrível poder de organizar uma ínfima parte da infinitude de possibilidades de cada momento.

Assim, ao proferir seu breve discurso, Miguel encontrou, mais que segurança, um sentido para nortear seu pobre coração e mente confusos. Mas essa sensação de segurança instantaneamente derreteu com o fim do som das palavras. Elas ganham muito mais significado e valor ao se tornarem públicas, porque recebem a validação de seus ouvintes, confirmando que realmente existem e são inteligíveis – quem nunca disse algo em voz alta, mesmo sozinho, só pra ver se acreditava no que estava pensando, se aquilo fazia sentido no mundo real?

Frequentemente somos atores perante nós mesmos quando falamos, porque concretizamos – ou tentamos concretizar – a imagem que queremos passar ao mundo exterior.

Talvez eu mesma tenha atuado quando fingi não reparar no Miguel ao passar pelo corredor e trombar com ele. Mas perdi a capacidade de encenação frente ao seu nervosismo tremelicante. Sucumbi à sádica curiosidade humana de observar o outro numa situação adversa. Devo tê-lo fuzilado com os olhos estupefatos, porque a tremedeira se intensificou ainda mais.

Então, numa súbita retomada de consciência, segurei a ponta do maço de folhas, que pararam de tremer, encarei seu rosto aflito e disse:

- Pode ler com calma! E quando terminar, fala comigo ou com a Vera, porque hoje tenho que ir embora mais cedo.

- Pode deixar! – respondeu. Sem mover um fio de cabelo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

nuvens de escapamento'"

*

a cidade é uma tela

a fumaça sua tinta

de diferentes cores

espessuras, densidades


que se mesclam

a todo momento

e quase se perdem

as linhas da cidade


cotidiano que arde

sempre na eminência


de partículas a subir

a descer,

___________ar,

_________vo

_______________escor

____________________rer


linhas de identidade

tão indefinidas

difusas, transferidas

que se trans c_e__n___d____e_____m


e transformam em cidade

qualquer canto descuidado

pedaço de cimento rachado

por um botão de flor

ou erva daninha

*

quinta-feira, 4 de março de 2010

'"eu chovo

Na primeira vez em que chovi, não entendi bem o que aquilo significava. Um tal de charco e mudança de cores. Depois, com o sol, veio a limpeza. E não reconheci onde pisava. A enxurrada tinha levado as máscaras das coisas. Tudo nu, tudo cru, não parecia nem era mais o mesmo.

Acho que tinha me cansado de mais do mesmo, sempre o mesmo. Decidi que não queria o mesmo sempre, e foi tão natural que nem tive dilemas, nem percebi a chegada dessa decisão tão importante.

Foi assim que comecei a chover e, desde então, não parei mais. A cada chuva há um novo amanhecer, um novo despertar pra vida, que andava tão escondida debaixo da poeira do vento, do brilho sol e da escuridão da noite.

Às vezes, logo depois da toró, escorrego nas poças d’àgua. Elas são novidades disfarçadas, que vamos descobrindo ao longo do tempo. Mas nunca reclamo por me molhar, afinal, quem está na chuva...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

o clima são as emoções do planeta'

me alegro quando chove:
as nuvens têm emoção, choram

o difícil é perceber exatamente o que as gotas significam
garôa pode ser felicidade ou melancolia
chuva de verão, adrenalina ou desabafo
já as tempestades são fúria ou tristeza

pelo descaso do homem com sua terra
que aumenta com o descaso pelos outros homens

e o ser humano é o único que não entende
porque a natureza anda tão temperamental ultimamente

e, apesar dos desastres, não sabe como isso é importante
pois quer dizer que ainda está viva!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Jornal Maternal #1

*
E se as mães resolvessem criar seu próprio telejornal?


Tirinhas de Bruna Esclaira e Gustavo braga



Assista em:
http://jornalmaternal.wordpress.com
*

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

sinal de fumaça

*
estou

__________

já cavei tão fundo
onde não queria chegar

perambulo
só.
só?

desprender-me do mundo inteiro
não me desprende das emoções

regenerar.

e é tudo pelo objetivo
de dizer

vem

____________cá!

porque
já escalei o monte das ilusões
e não caí

*

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

semillas'

mergulho novamente nas brisas do Guadalquivir
em cujas margens nunca pisei
tenho saudades das cidades que desconheço
como o homem que observa a chuva
desde os princípios da humanidade
em busca de algo que a transcende
mas nunca consegue agarrá-lo
no máximo, avista-o, ao longe

e quando isso acontece, a poucos detetives destreinados
é como se mergulhassem num rio revelador
que esconde a nitidez de suas águas
e emergissem, em seguida, com algo fora de lugar
e um impulso próprio a seres como os escritores

então passam a propagar suas descobertas
escondidas em aliterações e relatos
que costumam passar despercebidos
mas, curiosamente, estimulam certos leitores
e mesmo sem passar-lhes significados exatos
instigam-nos a suas próprias buscas

de cidades desconhecidas e torrentes chuvosas
ou qualquer mistério que não necessite revelação
apenas precise ser propagado

aos quatro ventos

como sementes