segunda-feira, 6 de maio de 2013

de boa com o boi


um dos maiores mistérios contemporâneos, na minha humilde opinião, é o demasiado incômodo das pessoas que comem carne em relação aos vegetarianos & afins não militantes.

veja bem, eu podia estar panfletando os malefícios do consumo excessivo de animais, ficar horas discorrendo sobre como a pecuária contribui para o efeito estufa, enviar as cenas grotescas do documentário “A carne é fraca” ou lotar seus e-mails com chantagens emocionais de bichinhos bebês insuportavelmente fofos suplicando piedade.

mas não. estou apenas aqui, na minha, de boa com meus vegetais, com muito amor no coração, sabor na boca e saúde nas veias. e, mesmo assim, sou obrigada a travar uma guerra diária para legitimar minha opção pessoal frente à sociedade, ciência, economia, deus e o cosmos com estudos certificados e firma reconhecida.

há, sim, muitas controvérsias sobre os efeitos do consumo de carne, para o bem e para o mal, e seria contraproducente tentar impedir este debate. nada contra os partidários do consumo do boi, muito menos do consumo com o boi. ambos têm o direito de se expressar e assumem a possibilidade de serem contrariados ao fazê-lo. a questão aqui é o incômodo exagerado com a simples existência de vegetarianos, mesmo que eles nunca falem sobre isso e até frequentem churrascos numa relax com seu pão & vinagrete.

a impressão que dá é que certos “carnívoros” concordam com a insustentabilidade ou os males do consumo de carne hoje, mas não estão dispostos a abdicar do prazer que sentem ao saborear uma suculenta picanha e, no fundo, sentem-se ligeiramente mal por isso. assim, veem os vegetarianos como pretensos mártires exalando sua suposta superioridade por se “sacrificarem” em prol do bem planetário.

pede até ser que alguns desses “herbívoros”, de fato, sintam-se assim, mas juro que não é o meu caso nem da grande maioria de vegetarianos, veganos e “simpatizantes” que conheço. não acho que minha opção por não ingerir animais vá salvar o mundo. não creio que, numa sociedade ideal, o consumo de todo tipo de carne deveria ser abolido por completo. acredito, inclusive, que há outros problemas alimentares tão preocupantes quanto a produção e o consumo da carne hoje em dia.

apenas sinto como a decisão de buscar uma alimentação com menos carne e mais natural revolucionou vários aspectos da minha vida e me fez perceber como estamos condicionados a padrões alimentares que, nem sempre, nos são benéficos, necessários ou saborosos. esta busca pessoal tem me levado a um incrível autoconhecimento em diversos níveis e me mostrado como é possível ter uma maior autodeterminação sobre meu próprio corpo e suas relações com a natureza. faz com que me sinta bem e livre.

isso é a minha verdade, faz sentido na minha vida. não acho que seja pra todo mundo e seria até estranho se fosse. não quero determinar o comportamento de ninguém, só o meu.

sei que outras questões envolvem inúmeras outras especificidades, mas o fato de eu não comer carne afeta quem come da mesma maneira que a aprovação do casamento gay afeta os heterossexuais: nenhuma.

não acho que tudo se resuma ao que vou dizer agora, mas: não sente atração por pessoas do mesmo sexo que o seu? seja hétero. não concorda com a ideia do aborto? não aborte. não curte maconha? não fume. acredita em deus? não seja ateu. apenas respeite a diversidade.

fica de boa aí com seu boi, que eu fico com meu mato. fechou?