quarta-feira, 20 de junho de 2007

Vontade de não ir embora, mesmo sem motivo de ficar
Ficar só pela companhia
e pelo des-objetivo de ver o que ainda tem pra acontecer antes do final do dia...
Voltar pra casa, pros deveres embaçados, que custam a enxergar-se concretos;
sempre protelados, trocados por des-deveres desinteressados de objetivos utilitários.

Surtos criativos na madrugada
Pensamentos soltos projetados em letras
Só pra acalmar a mente agitada.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

O dito cujo


Não sei o que acontece que debilita minha capacidade escrever um texto sobre um acontecimento muito intenso e recente. Talvez seja o quase esgotamento do tema nas conversas da semana posterior inteira (e partes das semanas seguintes). Talvez seja a dificuldade de juntar todos os fragmentos do evento e organizá-los num texto só – tudo faz sentido no brainstorming, mas na hora de juntar, a ordem das peças muda e sempre parece que falta alguma.

Peraí, duvido que alguém tenha conseguido reunir todas as peças, cada narrativa é bem diferente! Todos vivemos o mesmo Juca, mas cada um criou o seu Juca, que vai lembrar e contar pros netos (ou não haha). É, pra quem ainda não tinha sacado, estou falando dos Jogos Universitários de Comunicação e Artes, que ocorreram num intervalo de tempo bem relativo, entre os dias 7 e 10 de junho, no longínquo vilarejo de Registro, interior de SP.

Milhares de universitários de 8 faculdades do estado misturavam-se e diferenciavam-se pelas ruas, ginásios, escolas, restaurantes e até casas de família da cidade. Calouros naquele mundo, logo aprendemos a peculiar língua jucana, entoada nos mais diversos volumes e sempre acompanhada por movimentos descoordenados e empolgados. A sua camiseta denuncia sua tribo e, por identidade reativa, você sabe que todas as outras são seus inimigos. Mas até o conceito de inimizade no Juca é relativo, é apenas um pretexto pra externar a energia jogando com gritos de guerra.

Outra coisa bem relativa é a integridade física e mental dos jucanos: limites entre cansaço e empolgação, sobriedade e ‘loucura’ são totalmente irrisórios. Logo no primeiro dia, descobri que o corpo tem alguns limites e que o sistema de serviços de cidades de interior, especialmente em feriados, também. Depois de uma aventura pelos hospitais e farmácias da cidade e de um certo “repouso” (repouso no Juca pode significar uma ou duas horas sem pular, gritar ou ingerir substâncias derivadas da cevada e afins), a energia amarela e roxa já me fazia pular novamente no jogo Mackenzie Vs. Eca, no Entro Esportivo Mário Ovas.

Nem só de jogos vivem os jucanos, as festas e a vida no “alojas” são capítulos à parte. O improviso e a convivência atingem graus inimaginavelmente estranhos e cômicos, mas que promovem a integração e intensificação das amizades (e da intimidade) como em poucas outras situações. Se pudesse criar um neologismo, diria que esta é a parte mais jucástica do Juca!

Como se já não tivéssemos enchido nosso repertório de histórias pra contar e já não estivéssemos preenchidos dos mais intensos tipos de emoções, presenciamos mais um fato histórico em 14 edições do Juca: a vitória da Eca! Sim, Egistro ficou roxo e amarelo! A energia da comemoração foi mais forte do que o penta na Copa do Mundo! Ninguém sabia mais a hora de parar, mesmo que as pernas não respondessem, a inércia da felicidade ecana nos movia.

É, chegou a hora de voltar, e, como tudo nesses quatro dias, até a volta pareceu não ter fim. Pra mim, o maior choque na chegada foi perceber como permitimos nos desligar totalmente do “mundo real” pra viver plenamente esses dias incríveis, embaralhados, estranhos, divertidos e eternos.

(Por fim, consegui falar sobre o Juca num texto com começo meio e fim – bem diferente das lembranças embaralhadas do dito cujo e sem as histórias pros netos, afinal, essas, além de envolverem direitos autorais alheios, merecem ser guardadas pra eles;)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Por que jornalismo

Quando pequena tinha sonhos e ideais de vida como um plano muito claro do futuro – plano que foi mudando com o tempo, mas sempre um plano. Sabia o que queria fazer, como queria “contribuir com o mundo”. Independente da profissão que escolhesse, ela seria apenas uma meio para alcançar os objetivos. Continuo achando que o importante é a pessoa que você se torna, seja médico, dono de floricultura ou pára-quedista, mas a profissão pode revelar muito sobre alguém. Pois é, acho que, pra mim, a descoberta veio ao contrário: preenchi a inscrição da Fuvest com a bendita carreira 242 porque era a que mais simpatizava, o surto de escolher jornalismo havia ocorrido dois anos antes, mas só depois os motivos foram vindo à tona. Mais do que conhecer a profissão, vou me conhecendo e descobrindo que meu surto no escuro foi um golpe de sorte certeiro.
Ok, agora vamos ao que já descobri: odeio rotina e isso não existe no vocabulário de um jornalista, o qual é bem vasto, pois ocorre comunicação o tempo todo, com todo o tipo de gente e por todos os meios; posso ser utópica, mas acredito que é possível sim mudar o mundo (ou partes dele) através da comunicação, aliás, apenas assim, o que me faz sentir feliz só por estar nesse caminho, mesmo que ele tenha desvios indesejados. Descobri que gosto de lidar com pessoas, que quero fazer entrevistas, investigar um mistério, denunciar o que ninguém vê, ajudar uma ONG, descobrir realidades sociais como elas são, gritar pelo meio ambiente, viajar sem destino, ficar um mês com os índios da Amazônia e escrever um estudo, tirar fotos escondida, rir com a equipe da redação, escrever uma crônica, organizar encontros, não ter hora pra chegar. Mas a melhor descoberta é que a descoberta em si é infinita.
No horizonte, vejo minha imagem daqui a 50 anos, vejo a trilha que terei traçado. Nenhuma delas tem contorno nem forma, são tão confusas como um adolescente em orientação vocacional. Mas elas têm vida e vontade de viver – acho que tinha razão quando era pequena, era essa a parte clara do plano do futuro. Por que jornalismo? Porque é uma profissão muito viva. Jornalista não por um objetivo concreto, nem por fama ou por dinheiro (seria melhor escolher outra carreira pra isso, não?), apenas por essa maneira de viver!

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Quem bate?

Quem bate à porta

Você bate na porta novamente
Corro a abrir, fosse o mundo desabar
E então paro, assim, de repente
Penso se iría a angústia acabar
E não tenho certeza.

Você bate à porta, novamente
Eu quero, eu deixo você entrar!
Mas não, não pode ser assim descrente
Displicente, simplesmente sem lugar
Lugar que já é seu.

Tão seu, tão meu, por ocupar.
Tão, tanto, muito mutuamente
Certo da incerteza de habitar
Pois já sem identidade, indigente
É você quem bate?

Eu bato à porta, eu mesma abro.
E você, onde foi parar?
Aqui, aqui mesmo, aqui dentro
De um mundo de possíveis a chegar
Que chegam sem parar.

Na sala de estar, espere
Se quiser, não há de se importar
Sem egoísmo, digo que espere
Pois a dúvida só calará
Ao encontrar-me nas possibilidades
E se mostrará sua identidade
Quem bate à porta é o revelar.


*****

Freqüência

Sintonizei a estação proibida
Permiti que as canções entrassem
Nas memórias nada perdidas
De perder-me nos teus braços
Nos pensamentos dos teus passos
Nos passos do meu caminho
Desviado do sozinho
Não mais

Nada mais de só, nem de apenas
Tardes de agitação serena
Nuvens de coisas pequenas
Desfeitas.

Tudo é grande, tudo agora
Permanente movimento
Pensamentos, sem demora,
Encontram-se, são vento.

Voam alto e longe
Somem no céu, cobrem o mar
Ouvem-se vazios, cheios de plenitude

Pois é, aqueles versos pequenos
Aqueles minutos, acenos
Nada têm de amenos

Chega de divagar
Só quero ver voar, ir e voltar

Viajar, encontrar

Sentir, descobrir

Perder-me.


*****

Pra curtir uma poesia

Tem que ser bem de perto
Ao concerto do som certo
Sem pressa, sem malícia

Tem que ser acompanhado
De sentimento acalorado
Sensação propícia

Tem que ser em labirinto
Zigue-zague de extinto
Sem demora, sem senão

Largar tudo de ante-mão
Descobrir a emoção
Acoplar o coração
à mente.