sábado, 22 de dezembro de 2007

Labirinto (ou Caroço II)

Aquilo não se chama mais caroço. A casca quebrou porque cresceram coisas dele, espécie de raízes. A orelha esquerda está feliz, pois agora não é mais incompreendida pelo resto do corpo, as outras partes entendem-na, porque as raízes estão por todas elas.
Uma vez plantei um grão de feijão no algodão e as raízesinhas formaram um pequeno labirinto. Só que naquela época, tudo era uma grande experiência, eu era a cientista impressionada com os resultados – todos eles cabiam na palma da minha mão.
Agora, não cabem mais e acho até que deixei de ser cientista, sou experimento. A única semelhança com o pé de feijão é o labirinto que as raízes do caroço fazem. Elas se misturam com o labirinto da minha mente, que se confunde com o do meu espírito e do perispírito e da alma e do coração e até das fibras musculares. Enfim, agora o caroço – que não é mais caroço – faz parte de mim, como labirinto.
Outro dia li em alguma revista de curiosidades banais, que o que você desenha sem pensar muito enquanto faz outras coisas, pode revelar algo sobre seu estado de espírito. Como sempre tive mania de rabiscar em tudo quanto é lugar e à qualquer hora, resolvi reparar nos tais rabiscos: um monte de labirintos! Para todos os gostos: retilíneos, arredondados, abertos, fechados, independentes e sobrepostos. Segundo a tal revista, labirinto revela dúvida, confusão. Oras, melhor definição não pode haver.
Pois então, se eu sou um labirinto, sou uma confusão, sou uma dúvida. Ainda bem que tenho Clarice Lispector para me consolar: "Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento. Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Eu sou uma pergunta."
Nada de angústia, nem de medo ou de insegurança, tampouco, nada de certeza, nada de paralisia. Sou uma pergunta e me pergunto que é que a vida vem me perguntar. Quando todas as respostas forem dadas, o jogo acaba. Mas isto não acontece, pois cada resposta brota com uma pergunta acoplada.
Então a angústia não está mais presa num caroço incomodo. É certo que lascas dela se espalharam, mas se espalham como os pedaços dos outros sentimentos e se misturam, se separam e se unem em brotos. Cada broto, uma dúvida, uma resposta, uma mudança, uma pergunta. Labirinto.

Um comentário:

Anônimo disse...

vc anda muito ativa por aqui hein?
imaginno porque...
essa vida eh mto dificil