sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Chovida

CHOVE, aquela chuva calma, espevitada de verão, como a "aurora da vida". Talvez a chuva seja a melhor tradução da vida, metáfora de vários tipos de vivências. A chuva-temporal-de-raios-e-trovões, é o medo do sem controle, das situações obscuras em que nos metemos, é o não achar o caminho de volta pra casa. A chuva-de-pedras-de-gelo é o toc-toc de uma realidade dura, que chega de súbito, mas de leve; ou o emergir de uma idéia latente, única, surpreendente. A chuva calminha e grossa, no calor, é aconchego, é a fala do cotidiano bem perto do ouvido, é simplicidade fina, difícil até de acreditar, porque tentamos rebuscar; é cada gota sentida pra viver plenamente. Chuva fininha com ventania de inverno é a rigidez da realidade - o fôlego da jornada vem ao encara-la de frente; é contratempo e impulso ao mesmo tempo. E aí chega a chuva-de-verão, torrente de supetão; é intensidade pura, é insensatez, é a virada radical que cada situação precisa, é força, vigor, é entrega. É chuva, é vida.

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Te digo a chover

Se você disser que eu vivo na chuva
Direi que maior verdade não há
Se aqui, agora, vivo a torrente,
É que vivo sempre e não quero parar

Se de pé em pé d’água nasce um caminho
Andarilho, corro e pulo, sem dó
Dó é trovão duro em terra seca
Piedade é água corrente no solo

O chão, molhado, é bem mais macio
É canto e poesia de escorregar
Nas vielas da vida desconhecidas
Que tanto levam a nos encontrar

Não entendo como que as nuvens fazem
Pra todo tipo de chuva chover
Mas sei que ajo como elas agem
Sem perceber, ao cair a viver

3 comentários:

Pedro Sibahi disse...

Que vontade de me molhar!
Isso me lembra saída da Outubro, tava uma delícia!

Fernanda Braite disse...

Realmente, tava uma delícia, se eu não tivesse ficado com a roupa molhada até as 4 da tarde e pego uma gripe das boas! ..hehehe

Mas chuva é sempre bom. O mais engraçado é ver as pessoas na rua, reclamando. Reclamam, por quê? Não é graças à chuva que estão vivas? Não é graças à chuva que elas têm a possibilidade de reclamarem?

Vai entender.

Quando eu tiver mais 5 minutos, eu te adiciono nos meus links, Dona Bruna!! BEIJOS!

Anônimo disse...

Gosto de chuva fininha com vento de inverno... ou melhor ainda, prefiro garoa, mas ultimamente anda tão rara, quase só dá em bairros do extremo sul de sampa (terra da garôa, de tão antigo tem até acento). Também gosto de entrar em blogs de pessoas que conheço mal só pra deixar elas com cara de "mas como foi que vc entrou aqui???". Parabéns pelo texto, bixete. Curta bem seus próximos anos de ECA, que eu no segundo ano já morro de saudades do primeiro. Assinado Zé, veterano poeta que não tem muito o que fazer.