sexta-feira, 26 de outubro de 2007

D'um bar

Daí vi aquela cena de um cara sentando numa mesa de bar. Sozinho. Como se aquilo fosse tão banal quanto excêntrico. Como se fosse sua última esperança desesperançosa. Queria fazer algo, não sabia o quê. Só sabia que sua solidão o incomodava muito, não podia estar só consigo mesmo, seus pensamentos não o deixavam em paz.O que as pessoas fazem quando se sentem sós? Procuram mais pessoas. E onde há sempre pessoas querendo ser procuradas, senão num bar?
Decidido, levantou da poltrona velha e surrada do apartamento no centro da cidade, lavou o rosto, passou colônia, escolheu um par de sapatos – aqueles novos ainda não tirados da caixa, presente da mãe em sua última visita “para sair com as garotas”, dizia ela. Olhou-se no espelho, percebeu que falava consigo, balançou a cabeça, desviou o olhar, dirigiu-se à porta. Nunca a maçaneta havia sentido tamanha decisão. Mas o chão do corredor hesitava no toque dos passos desajustados. As luzes da rua ardem, fraquejam os olhos, provocam indecisão de encarar o mundo frio e objetivo. Mas, ao mesmo tempo, fazem as pernas revidarem contra o ofuscamento e surge uma coragem cheia de satisfação.
O letreiro luminoso pisca. Aquela precariedade passa uma mistura de banalidade e novidade. A porta se abre com facilidade, agora é preciso entrar. Então dentro, por que toda aquela segurança parece ter sumido? Onde sentar, o que fazer? Enfim, qual bebida pedir? Devo olhar em volta? É tudo tão banal que é melhor fingir que não se vê, pois já está acostumado – mas não está. O costume é um hábito fora de lugar, nesse caso.
Percebe-se só. Somente sozinho, mais nada.E então, as vozes voltam pra lembrar que, às vezes, faz-se mais só aquele rodeado de muita gente. Nem havia tantos assim naquele lugar, mas o suficiente para alternar a atenção dada àquelas vozes ao observar outros seres. Eles deviam ter pensamentos como os dele, mas, provavelmente, não pensava sobre seu próprio pensar. Talvez o fato de achar ser o único a pensar no pensamento fosse o que o angustiava.Quando nossos olhares se cruzaram, foi um momento de revelação. Percebi-me na mesma situação que a dele. Mas, alem de pensar sobre meus pensamentos, ainda atribuía a mesma conduta àquele homem. Podia ser mesmo que aquelas suposições fossem verdadeiras, mas isto não importava.O que aquela revelação causou foi um estranhamento daquela realidade de bar. Pessoas buscando algo, fugindo de si mesmas. Mas foi justamente nessa fuga que me encontrei.

Um comentário:

Vandson disse...

Almoçar sozinho tem dessas também. Fica todo mundo em alerta, os graçons te atendem melhor, as mulheres t interrogam com os olhos "o q aconteceu?".
Movimenta o ambiente.
bjos