terça-feira, 10 de abril de 2012

chá de chuva


faço um chá com a água da chuva
e deixo que ela destile meus caroços
sonhos remoídos, dúvidas inacabadas
que se aglomeram no pescoço
e impedem o correr do ar

deixo que o vapor os dissipe
e que sua própria fumaça me acalante
misturada ao sabor da infância:
hortelã

uma xícara de chá é como colo de avó
tem qualquer coisa de refúgio e certeza
que combina perfeitamente com a instabilidade da chuva
e o mantra tranquilizante dos gotejos

lá fora, as gotas são tormenta e resfriado
aqui dentro, trégua e aconchego
dessa duplicidade vem seu dom de destilar problemas
substância pesada e grudenta
contra a chuva leve e escorregadia

chá vai chovendo
chuva vai fervendo
e os caroços amolecendo
derretem-se e misturam-se
escorrem pelas veias
e evaporam aos poros todos
suadouro refrescante de hortelã:
cuca fresca!

4 comentários:

lia disse...

lindo!

Davi Machado disse...

todo o poema é muito bonito,
friso esta parte:

"uma xícara de chá é como colo de avó
tem qualquer coisa de refúgio e certeza
que combina perfeitamente com a instabilidade da chuva
e o mantra tranquilizante dos gotejos"

parabéns pelo talento!

Mary Montoni disse...

amei seu blog, seus poemas... to seguindooo!!!!!! xD

Translation service disse...

I think youve made some truly interesting points. Thanks for your insight for the great written piece. I am glad I have taken the time to read this.