quarta-feira, 24 de junho de 2009

Eu sou minha revolução

E, nisto, não há nada de egoísta. Ocorre que nós, animais humanos, não somos formigas. Não temos funções pré-determinadas, nem devemos querer aceitar uma rainha que nos indique seu projeto único e absoluto de formigueiro. Devemos tomar cuidado com certos conceitos de igualdade que buscam a supressão da individualidade (falo da globalização neoliberal). Somos iguais sim, mas no sentido de valor, valor este, no sentido de valer - já que ninguém vale mais do que o outro e, portanto, não deve agir como se tivesse o direito de subjugá-lo. Iguais no sentido de capacidade de formulação de consciência e ação, mas intrinsecamente diferentes nas maneiras pelas quais cada um constrói esses dois pilares-projeções do eu.

Minha revolução sou eu, porque, uma vez que não existe um ou alguns animais humanos cujo código genético determina como responsáveis pela revolução de sua comunidade, e que cada comunidade é mais complexa do que a simples soma de seus indivíduos, cada animal humano tem a capacidade e a responsabilidade de se auto-revolucionar.

É claro que tal revolução não se trata de um ato solitário. As estratégias utilizadas para a massificação da cultura já demonstraram que a alienação para a aceitação desses produtos “culturais” se dá, principalmente, por meio do isolamento das pessoas em frente à televisão. Mesmo que dois indivíduos assistam à teletela (alusão ao livro 1984) juntos, não estão interagindo verdadeiramente, as falas da tela substituem o diálogo que deveria surgir entre eles. O diálogo é o que evidencia as diferenças entre as pessoas, que aprendem a conviver apesar delas. Convivência não significa a supressão dessas diferenças, é o que possibilita a diferenciação do outro, que dá força à individualidade – não ao individualismo.

Individualismo é aquilo que leva ao surgimento de “salvadores da pátria”, heróis super-poderosos que teriam o poder de incutir sua auto-revolução a todas as outras pessoas, bem como seu projeto de revolução para a sociedade em geral. O mecanismo seria muito simples: bastaria que uma cabeça brilhante tivesse uma idéia de solução - ou aderisse a uma, destacando-se por seu carisma - para todos os problemas da humanidade e a ditasse através de um alto-falante global. Os ouvintes se eximiriam do esforço de entender essa idéia e de levá-la adiante, porque esse ser extraordinário faria a mágica da revolução acontecer por sua conta e risco.

Por mais inúmeros que sejam os heróis que ficaram para a história – cujos superpoderes foram fabricados historicamente -, nenhum deles foi o único responsável por qualquer revolução. Nem Lênin, nem Che Guevara, nem Lula, nem quem-quer-que-seja foi, é ou será capaz de instaurar uma revolução real no cotidiano de todos. O fato de terem sido pessoas corajosas, carismáticas, ótimos exemplos (ou não) é importante e merece estudo, memória, mas não glorificação. Podem ter sido responsáveis pela disseminação da semente de um projeto de sociedade diferente, mas foram, são e serão incapazes de fazê-la florescer sozinhos. Acreditar na salvação por um messias é uma postura conformista que ssó gera imobilidade.

Revoluções reais não acontecem pela vontade de um líder ou pela exaltação de uma idéia pronta. É preciso que cada um se revolucione e, então, descubra, no debate com os outros, alternativas a serem construídas em conjunto para revolucionar a comunidade. Já que o valor e a vontade de um conjunto de pessoas não são iguais à simples soma das vontades de todos os indivíduos que o compõem, é impossível que a revolução desse grupo aconteça a partir de um projeto individual. Mas é preciso a participação de todos, por isso, é preciso se auto-revolucionar. Nesse sentido, uma revolução pessoal é o que de mais coletivo pode haver.

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