sábado, 21 de junho de 2008

Goteira

Tem um furo no teto do meu quarto que não pára de gotejar tempo. Um tempo todo entrecortado e irregular, que cai antes que eu consiga alcançá-lo e molha tudo à volta, nem adianta colocar balde embaixo. Quando passo por ali, às vezes sempre saio encharcada de tempo, escorrendo até os pés, escorregando.
São gotas de anseios, de dúvidas, idéias, fomes e calmarias inquietas. Elas secam rápido, e logo voltam a molhar. É um tempo estranho, louco e meu, do mundo, talvez.
Não sei onde se acha tempo em conta-gotas, iguaizinhas, cada uma com 5 ml. Tão padronizadas; totalmente fora do padrão da vida. Tempismos certeiros para serem engolidos de uma vez, sem desperdiço, supondo-se muito eficientes. Do tipo que teria a consideração de não morrer atropelado no meio da rua para não atrapalhar o trânsito.

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