terça-feira, 14 de abril de 2009
Conselho
Um dia me perguntaram por que eu não comprava um caderno de escrever – “pra dar vazão à criatividade”. Que ajudava a visualizar rimas, fazer poema brotar. Respondi que poesia não acontece em caderno nem em rima. Caderno até serve de berço, mas não de parteiro, porque poesia só nasce de parto normal.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
mensagem na garrafa
Agora que percebi que sou navegante, descobri a razão dessa mania de escrever mensagens pra que sejam encontradas, longe, por algum caiçara.
Talvez todo jornalista – de alma – tenha um pouco disso, uma certa distância que o faz analisar as coisas, ao mesmo tempo em que permite a ele se envolver com o mundo bem de perto.
Dizer que jornalista é um ser apaixonado é pleonasmo. Ao menos, na minha visão do que é jornalismo, na qual o trabalho está intimamente atrelado à “missão” de luta por objetivos. É certo que nem sempre ocorre assim – tão aí as capas dos jornais, revistas, sites pra comprovar -, mas isso não tira a razão de acreditar e buscar viver um ideal.
Quando esse tal de “ideal” – de luta, não de situação - parece virar cotidiano – cotidiano, aliás, nada comum -, a paixão pela profissão não tem mais onde se esconder.
Fazer jornalismo é estar diante do mundo, como num trampolim sobre uma piscina, e mergulhar aos poucos, suave ou bruscamente, de cinco ou cinqüenta metros de altura (na maior parte das vezes, de cem metros). É se espantar com cada sutileza ou “óbvio surpreendente”, na superfície ou lá no fundo, buscando aprendizado. É, ao escrever uma simples nota de 1/8 de página ou uma matéria de 10 folhas, ter a sensação de que se está passando muito menos do que se aprendeu ao apurá-la. E, ainda assim, crer que aquele pouco que se conseguiu passar adiante possa se transformar, ou ser transformado, em realizações, em mudanças.
(e toda essa paixão que já não me deixa viver em paz é a paz que alimenta minha ânsia de viver)
Talvez todo jornalista – de alma – tenha um pouco disso, uma certa distância que o faz analisar as coisas, ao mesmo tempo em que permite a ele se envolver com o mundo bem de perto.
Dizer que jornalista é um ser apaixonado é pleonasmo. Ao menos, na minha visão do que é jornalismo, na qual o trabalho está intimamente atrelado à “missão” de luta por objetivos. É certo que nem sempre ocorre assim – tão aí as capas dos jornais, revistas, sites pra comprovar -, mas isso não tira a razão de acreditar e buscar viver um ideal.
Quando esse tal de “ideal” – de luta, não de situação - parece virar cotidiano – cotidiano, aliás, nada comum -, a paixão pela profissão não tem mais onde se esconder.
Fazer jornalismo é estar diante do mundo, como num trampolim sobre uma piscina, e mergulhar aos poucos, suave ou bruscamente, de cinco ou cinqüenta metros de altura (na maior parte das vezes, de cem metros). É se espantar com cada sutileza ou “óbvio surpreendente”, na superfície ou lá no fundo, buscando aprendizado. É, ao escrever uma simples nota de 1/8 de página ou uma matéria de 10 folhas, ter a sensação de que se está passando muito menos do que se aprendeu ao apurá-la. E, ainda assim, crer que aquele pouco que se conseguiu passar adiante possa se transformar, ou ser transformado, em realizações, em mudanças.
(e toda essa paixão que já não me deixa viver em paz é a paz que alimenta minha ânsia de viver)
quinta-feira, 19 de março de 2009
Lara Livre
Por onde passava, chamava atenção. Era aquele andar peculiar. De tão leves, seus passos desexistiam, segundos após se formarem no ar eminente ao chão. Faziam a terra desistir de ser dura e estremecer, desorganizando tudo à volta.
Ninguém conseguia prender Lara ao solo nem determinar seu caminho. Sempre à deriva. Seu único senhor e guia era o vento. Bem tentarem driblá-lo e conduzi-la a qualquer canto – em vão.
Até que um dia passou tal ventania que levou Lara da vista de toda gente que, de tanto descrente, foi procurá-la. Acharam-na à beira d’um penhasco, prestes a cair, e estaticamente segura por um fio de corrente de ar contra o desfiladeiro abaixo.
“Vem Lara, vem, por que não se salva?”, clamavam as gentes. Sua fala tão livre quase não podia se materializar. Até que se esboçou assim: “meu pé de vento”. Então todo mundo entendeu: Lara Livre era presa à sua própria leveza e nunca a desobedeceria.
A gente voltou a suas liberdades e prisões pensando no descabimento de ser livre por obrigação.
Ninguém conseguia prender Lara ao solo nem determinar seu caminho. Sempre à deriva. Seu único senhor e guia era o vento. Bem tentarem driblá-lo e conduzi-la a qualquer canto – em vão.
Até que um dia passou tal ventania que levou Lara da vista de toda gente que, de tanto descrente, foi procurá-la. Acharam-na à beira d’um penhasco, prestes a cair, e estaticamente segura por um fio de corrente de ar contra o desfiladeiro abaixo.
“Vem Lara, vem, por que não se salva?”, clamavam as gentes. Sua fala tão livre quase não podia se materializar. Até que se esboçou assim: “meu pé de vento”. Então todo mundo entendeu: Lara Livre era presa à sua própria leveza e nunca a desobedeceria.
A gente voltou a suas liberdades e prisões pensando no descabimento de ser livre por obrigação.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Close
reflexo de nariz. textura de bochechas. fios de luz, de cabelos. ímã entre dois corpos. ar quente. uma corrente fria de repente, cheiro de rua, de mundo. mundo? onde? distante, abstrato, inexistente. mundoaqui, mundonosso. nós, isto, isso. sempre. não, tempo só há fora. mundo é só o que se olha distanciado, fora do close. aqui é aqui. agora é sempre e é nunca, é sonho, é nada, a única realidade possível em meio a sonhos impossivelmente reais. esse excesso de realidade é o que cega as pessoas. aqui é diferente. você é só você e eu, simplesmente eu – sem precisar chamar nem Você nem Eu. posse é de fora, aqui há conexão, é conexão. eterna, num instante de leveza intensa. bem de perto, mais que dentro, quase fora.
tranS-
BORDA
Às vezes me bate um desespero louco – ou uma loucura de entrar em desespero. Sinto-me isolada num nada e quero abraçar a tudo e a todos. Logo me vejo cheia de tudo – não sei se minha vida fica muito cheia de coisas ou se todas as coisas me são muito cheias de vida. Só sei que transborda. O mundo me enche de vontades que transporto pra mil coisas que me enchem mais ainda e aí eu encho tudo até me encher de mim. Então, tento me anular enchendo os olhos de estrelas. Mas isso só me enche de calma e agitação e tenho que encher umas folhas de papel. Os pensamentos transbordam pra frente dos olhos que enchem de letras o lápis, que transborda mais que os pensamentos.
Às vezes me bate um desespero louco – ou uma loucura de entrar em desespero. Sinto-me isolada num nada e quero abraçar a tudo e a todos. Logo me vejo cheia de tudo – não sei se minha vida fica muito cheia de coisas ou se todas as coisas me são muito cheias de vida. Só sei que transborda. O mundo me enche de vontades que transporto pra mil coisas que me enchem mais ainda e aí eu encho tudo até me encher de mim. Então, tento me anular enchendo os olhos de estrelas. Mas isso só me enche de calma e agitação e tenho que encher umas folhas de papel. Os pensamentos transbordam pra frente dos olhos que enchem de letras o lápis, que transborda mais que os pensamentos.
sexta-feira, 6 de março de 2009
de assalto!
se me puxassem o tapete
seria menos inesperado
porém, mais brusco
não foi (nem brusco nem com tapete)
foi como perder os freios
(que ainda andam perdidos)
e achar-se quilômetros depois
à deriva (tontos de céu e de chão)
e agora, o que fazer?
se passa vento, tempestade?
e se dá medo? (de nada e de tudo)
e se fugir é pior que o medo?
e se os freios não funcionam?
e se as respostas são movimento?
- eis, aí, um porto escondido,
que nos salva do maior receio:
a calmaria (num tudounada)
seria menos inesperado
porém, mais brusco
não foi (nem brusco nem com tapete)
foi como perder os freios
(que ainda andam perdidos)
e achar-se quilômetros depois
à deriva (tontos de céu e de chão)
e agora, o que fazer?
se passa vento, tempestade?
e se dá medo? (de nada e de tudo)
e se fugir é pior que o medo?
e se os freios não funcionam?
e se as respostas são movimento?
- eis, aí, um porto escondido,
que nos salva do maior receio:
a calmaria (num tudounada)
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
novas janelas
Sou uma pessoa pensativa, por isso, passei boa parte dos meus tempos de ócio apoiada na janela do quarto olhando, viajando, pensando com a vista. Como certas características das pessoas mudam mais dificilmente do que a tecnologia, não perdi meu hábito de pensar-sem-freio, mas passei a olhar pra outra janela. Existem janelas dos mais variados tipos, e elas sempre parecem convidar à reflexão de alguma forma, por abrir um campo de visão pra além do ambiente onde se está. Tem gente que pensa com a porta da geladeira aberta, com o chuveiro ligado no banho – o que, aliás, não é nada saudável pro meio ambiente – e até olhando pra comida que assa no forno (e não falo só de cães). Mas hoje em dia, muita gente não tem tempo, sequer, de parar em casa pra abrir a geladeira, quanto mais pra ficar apoiada na janela. Tem muita coisa pra ser feita em muito pouco tempo, que não pára – a não ser que caia a conexão. A velocidade da vida medida pela da internet. Quase arrisco dizer que pessoas com acesso a conexões de alta velocidade têm mais chance de sucesso. Exagero, mas nada demais se comparado ao desespero causado por alguns minutos de “queda” da rede em pleno dia de trabalho. Você já reparou como desviei do assunto do começo deste texto? É exatamente isso o que ocorre, o tempo todo, quando se usa a internet, a rede. E isso tem tudo a ver com as janelas. Um link leva a outro e, quando se percebe, há vinte janelas abertas ao mesmo tempo na tela do computador. De certa forma, esse universo virtual caótico assemelha-se bastante a nossa própria mente, creio que é por isso que acabamos pegando gosto pela coisa relativamente rápido: num dia você não sabe o que é um mouse e, no seguinte, não consegue pensar em seus afazeres sem abrir o e-mail. (E como a rede não é linear, depois de uma volta, acabei chegando ao ponto que queria tratar desde o começo do texto:) Meu e-mail é minha nova janela de pensação. Não aposentei a janela do quarto, porque ela é única, é algo diferente, mas, você que trabalha na internet, pare pra pensar quanto tempo olhou pra janela do seu quarto e pra de um computador hoje? Quando percebi que tenho olhado muito mais pra segunda, fiquei preocupada, “estarei eu mudando minha forma de pensar por causa da tecnologia?”. Mas então reparei: toda vez que abro meu e-mail pensando numa coisa, vejo os assuntos recebidos e acabo me distraindo com outras coisas, até que, quando dou por mim, nem lembro mais no que estava pensando primeiro. Exatamente como acontece quando me apóio no beiral da janela. Nesse meu cotidiano louco e sem rotina, às vezes, chamadas de e-mails funcionam como tipos peculiares passando na rua e desviando o vôo do pensamento - que é como um balão cheio de ar que voa, vai voltando ao chão, quando é rebatido por alguém ou alguma corrente de ar inesperada. E eu, que nem sou “aquela” entusiasta da tecnologia, acabo falando dela sem querer.
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