Poderia ser índia e atravessar, todo dia, os desconhecidos desafios da selva. Ou então, andarilha, para descobrir os detalhes do submundo, aos quais têm acesso somente os encrencados ou desprovidos de oportunidades. Depois, seria rainha, para sanar as angústias do meu reino com o simples toque do meu cetro. Seria viajante, poeta, artista de circo, executiva. Se dispusesse de tantas vidas, em uma delas, seria até freira, para investigar o que há por baixo das batinas.
Mas cada um, neste mundo, dispõe de apenas uma vida, única, incrível e imensurável oportunidade de explorar e mudar este universo enorme – o qual, um único ser jamais será capaz de apreender sozinho.
E é por isso que escrevemos. Na impossibilidade de viver todos os papéis em uma única existência, burlamos as regras do destino e escolhemos o papel de escritor. Sob tal identidade, ganhamos o inigualável poder de performar os mais diferentes papéis, viver infinitas histórias e experimentar os mais contraditórios pontos de vista. Tudo isso sem perder a identidade e sem precisar buscar o mítico poder dos gatos de viver sete vezes.
5 comentários:
Uau, Bru, muito bom!
E me fez pensar nos atores. Eles também atuam porque não são gatos.
para mim, ninguém que não seja escritor pode sentir tão na pele o que é escrever, como você descreveu aqui. mesmo que, por algum motivo, diga a alguém que não é escritora, mentirá. afinal a sensação nítida do que é nadar num mar de palavras, é do escritor e só.
opa!
achei o teu blog com aquele esquema de "proximo blog"
parabéns pelas palavras
beijao
fudido
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