não li os clássicos
mas acho foda!
o tipo de coisa que não se faz mais
- ninguém lê tanto, imagina escrever
o problema é seu ritmo ultrapassado
já que a calma virou tédio
e o tédio tem pressa!
5 segundo pra carregar uma página
dedos frenéticos na touchscreen
e os olhos que desaprenderam a encarar
- que que é?
- nada…
olhos nos olhos
a sirene vibratória nos salva do contato
estamos todos conectados
a mesma linha do tempo
linkamos, curtimos, compartilhamos
a rede não nos poupa dos laços
57 amigos em comum
Fulano está solteiro
Maria foi pro Recife
Ricky se sente feliz na fila da balada
a fila pra entrar na fila da fila
o último lançamento conecta à velocidade da luz
e demora quilômetros de luzes vermelhas pra chegar
estamos juntos
mãos dadas na rua
mãos brincando no quarto
medindo cada dedo pelo outro
horas a fio
mas se o Facebook não diz
será verdade?
a realidade se tornou inverossímil
luta pra sobreviver
sufocada pela maquiagem
um ajuste #aqui, um filtro ali
bem mais real!
adoro minha vida
no altar virtual
minha imagem no topo
emoldurada igual a todas as outras
até plano de fundo merece
a moldura dos meus dias
pele, brisa, barulhos mesclados, cheiros citadinos
essa não se enxerga
deve ser irreal
como a calma dos velhos
que já são batidas frenéticas no banco de espera
- aguarde um instante,
você já vai viver
como jamais imaginou!
e se não gostar, pode trocar
em até 30 dias
mas se não me encaixo em nenhum dos modelos
pode ser que eu não exista
pois é, meu amigo,
você que me lê
você não existe
vamos desexistir juntos?
renuncio à celebridade anônima
aos meus dois cliques de fama
por um abraço com gosto
(mas, antes, preciso postar isso no Face!)