um
dos maiores mistérios contemporâneos, na minha humilde opinião, é o demasiado
incômodo das pessoas que comem carne em relação aos vegetarianos & afins
não militantes.
veja
bem, eu podia estar panfletando os malefícios do consumo excessivo de animais,
ficar horas discorrendo sobre como a pecuária contribui para o efeito estufa,
enviar as cenas grotescas do documentário “A carne é fraca” ou lotar seus
e-mails com chantagens emocionais de bichinhos bebês insuportavelmente fofos
suplicando piedade.
mas
não. estou apenas aqui, na minha, de boa com meus vegetais, com muito amor no
coração, sabor na boca e saúde nas veias. e, mesmo assim, sou obrigada a travar
uma guerra diária para legitimar minha opção pessoal frente à sociedade,
ciência, economia, deus e o cosmos com estudos certificados e firma
reconhecida.
há,
sim, muitas controvérsias sobre os efeitos do consumo de carne, para o bem e
para o mal, e seria contraproducente tentar impedir este debate. nada contra os
partidários do consumo do boi, muito menos do consumo com o boi. ambos têm o
direito de se expressar e assumem a possibilidade de serem contrariados ao
fazê-lo. a questão aqui é o incômodo exagerado com a simples existência de
vegetarianos, mesmo que eles nunca falem sobre isso e até frequentem churrascos
numa relax com seu pão &
vinagrete.
a
impressão que dá é que certos “carnívoros” concordam com a insustentabilidade
ou os males do consumo de carne hoje, mas não estão dispostos a abdicar do
prazer que sentem ao saborear uma suculenta picanha e, no fundo, sentem-se
ligeiramente mal por isso. assim, veem os vegetarianos como pretensos mártires
exalando sua suposta superioridade por se “sacrificarem” em prol do bem
planetário.
pede
até ser que alguns desses “herbívoros”, de fato, sintam-se assim, mas juro que
não é o meu caso nem da grande maioria de vegetarianos, veganos e
“simpatizantes” que conheço. não acho que minha opção por não ingerir animais
vá salvar o mundo. não creio que, numa sociedade ideal, o consumo de todo tipo de
carne deveria ser abolido por completo. acredito, inclusive, que há outros
problemas alimentares tão preocupantes quanto a produção e o consumo da carne
hoje em dia.
apenas
sinto como a decisão de buscar uma alimentação com menos carne e mais natural
revolucionou vários aspectos da minha vida e me fez perceber como estamos
condicionados a padrões alimentares que, nem sempre, nos são benéficos,
necessários ou saborosos. esta busca pessoal tem me levado a um incrível
autoconhecimento em diversos níveis e me mostrado como é possível ter uma maior
autodeterminação sobre meu próprio corpo e suas relações com a natureza. faz
com que me sinta bem e livre.
isso
é a minha verdade, faz sentido na minha vida. não acho que seja pra todo mundo
e seria até estranho se fosse. não quero determinar o comportamento de ninguém,
só o meu.
sei
que outras questões envolvem inúmeras outras especificidades, mas o fato de eu
não comer carne afeta quem come da mesma maneira que a aprovação do casamento
gay afeta os heterossexuais: nenhuma.
não
acho que tudo se resuma ao que vou dizer agora, mas: não sente atração por
pessoas do mesmo sexo que o seu? seja hétero. não concorda com a ideia do
aborto? não aborte. não curte maconha? não fume. acredita em deus? não seja
ateu. apenas respeite a diversidade.
fica
de boa aí com seu boi, que eu fico com meu mato. fechou?